Por prometer pagamentos rápidos, simples e baratos, o Pix segue despertando a atenção de milhões de brasileiros. Em apenas dois dias, o sistema de pagamentos instantâneos já recebeu mais de 10 milhões de cadastros. A grande adesão, contudo, também tem levantado dúvidas em relação à sobrevivência de serviços bancários tradicionais e à rentabilidade dos grandes bancos. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, avisou que o mercado precisa se adaptar à nova realidade digital.
Relatório divulgado ontem pela agência Moody's avalia que a redução de receita dos bancos pode chegar a 8%. Segundo a agência, o Pix será um “concorrente direto dos sistemas de pagamento existentes, incluindo TED e pagamentos com cartão de débito”. E diz que mecanismos como a TED não só geram receita para os bancos, já que cobram uma tarifa dos consumidores, como cresceram cerca de 31% desde 2017.
De acordo com o BC, o Pix será gratuito para pessoas físicas e vai cobrar uma taxa menor que as praticadas atualmente das empresas e dos empresários individuais que usarem o sistema para receber pagamentos comerciais. Um pagamento instantâneo terá um custo operacional de apenas um décimo de centavo. Logo, há a expectativa de que os bancos e as empresas de pagamento repassem essa redução de custos às empresas. E essa economia, aliada à facilidade e à rapidez do Pix, deve acabar reduzindo o uso dos mecanismos tradicionais de transferências bancárias, em especial TED e DOC, que custam caro para muita gente.
Efeito limitado
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), por sua vez, informou que a redução de receitas será “limitada”. O diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban, Leandro Vilain, alega que 62% das contas bancárias já são isentas de tarifas no Brasil e afirmou que, por isso, “o efeito do Pix de serviços avulsos é limitado”. O diretor do segmento de Pessoa Física do Santander Brasil, Marcelo Labuto, acrescentou que, por outro lado, o sistema de pagamentos instantâneos vai permitir a atração de novos consumidores e a oferta de novos produtos pelos bancos, o que pode gerar novas receitas. Labuto lembrou também que a popularização dos pagamentos digitais deve, ainda, reduzir os custos de transporte e segurança de numerário. Por isso, acredita que a redução de receita do Pix será compensada.
Em um webinar realizado ontem, o presidente do Banco Central reconheceu que “as plataformas tradicionais dos bancos estão sendo atacadas” pelo processo de inovação e transformação digital do sistema financeiro, que é fruto do “crescimento exponencial da tecnologia, da digitalização em massa”. Mas avisou que é preciso se acostumar. “Toda essa inovação gera um desafio para os pilares tradicionais que costumavam garantir a vantagem competitiva das instituições financeiras. Temos uma nova realidade que vai exigir uma adaptação das instituições e do mercado”, afirmou.
Roberto Campos Neto disse ainda que a transformação digital não é desafiadora apenas para as instituições financeiras, pois também gera um desafio de regulação. Porém, adiantou as prioridades do Banco Central nesse processo: garantir a segurança cibernética sem sacrificar a experiência dos usuários, otimizar a inovação tecnológica e criar as condições para um sistema financeiro integrado, aberto e interoperável.
Campos Neto indicou também, que, apesar de todos esses desafios, é importante insistir nessa agenda de inovação, já que os benefícios são grandes para os consumidores. “Tais mudanças, além dos desafios, também apresentam enormes benefícios potenciais. Para os clientes, há a perspectiva da provisão de serviços de melhor qualidade, mais inclusivos e menores tarifas. Para os empreendedores, novas oportunidades de negócios e menor custo operacional”, frisou.
Corrida
Muitos brasileiros parecem ter entendido o recado. Por isso, continua a corrida pelo cadastro das chaves Pix. Segundo o BC, o número de inscrições praticamente triplicou ontem, saindo de 3,5 milhões para a marca de 10 milhões já no segundo dia de registros do Pix. E mesmo quem ainda não sabe como fazer pagamentos instantâneos está tentando entender o sistema que entra em operação em 16 de novembro. Segundo o Google, as buscas por “PIX, o que é?” dispararam 850% nas últimas 24 horas. Essa foi a pergunta mais buscada na internet brasileira ontem.