conjuntura

FMI vê risco alto no Brasil

Instituição alerta para o crescimento da dívida pública e defende teto de gastos para manter confiança

O Fundo Monetário Internacional (FMI) entende que a economia brasileira enfrenta riscos “excepcionalmente altos e multifacetados”. Em relatório concluído após uma visita de uma missão técnica ao país, a organização multilateral chamou a atenção para o desequilíbrio das contas do governo e afirmou que a dívida pública está a caminho de terminar o ano no patamar de 100% do Produto Interno Bruto (PIB).

Embora tenha melhorado a estimativa para o desempenho da economia brasileira — espera agora uma retração de 5,8% neste ano, bem menor que os 9,1% que apontava anteriormente —, o FMI considera que o país corre o risco de sofrer com uma segunda onda das covid-19 e vai enfrentar taxas elevadas de desemprego. O texto destaca ainda que a redução do valor do auxílio emergencial deve reduzir a demanda neste fim de ano, o que pode enfraquecer a recuperação da economia.

Para o fundo, deve demorar muito tempo para que os níveis de emprego e renda voltem ao que eram antes da pandemia. Essa situação pode exigir do governo mais assistência financeira à população mais vulnerável.

O FMI chama a atenção para o aumento da desconfiança dos investidores por causa da enorme dívida pública do país e, por isso, enfatiza a necessidade de o governo brasileiro prosseguir com as reformas estruturais. Os técnicos do fundo observam ainda que, por causa dessa desconfiança, as taxas de juros de longo prazo subiram recentemente e que, portanto, é necessário um programa claro voltado à consolidação fiscal a médio prazo.

O relatório, que ainda tem caráter preliminar, alerta que, sem evidências “inequívocas” de que a regra do teto de gastos públicos será preservada, o aumento de despesas pode minar ainda mais a confiança dos investidores, provocando nova alta das taxas de juros nas operações de prazo mais longo.

“O compromisso inarredável das autoridades com o teto de gastos é positivo. Com a dívida pública alcançando 100% do PIB, preservar o teto constitucional de gastos como âncora fiscal é fundamental para estimular a confiança do mercado e conter os prêmios de risco soberano”, diz o documento.

Os técnicos do fundo avaliam, porém, que o Banco Central tem espaço para cortar a taxa Selic abaixo dos atuais 2% ao ano, se as expectativas de inflação permanecerem baixas.

Ipea: investimento sobe 3,4% em julho

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou ontem o Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que subiu 3,4% entre junho e julho. Na comparação com julho do ano passado, houve um recuo de 3,8%. No ano, os investimentos encolheram 5,4% e, no acumulado em 12 meses até julho, caíram 2,4%. O índice avalia investimentos na compra de máquinas e equipamentos (nacionais e importados), construção civil e outros ativos fixos.

De acordo com o indicador, o consumo aparente de máquinas e equipamentos subiu 10,9% em julho, depois de mostrar queda de18,1% no mês anterior. A produção nacional de máquinas e equipamentos cresceu 21,5%, na terceira alta consecutiva. Já a importação recuou 7,6% no mesmo período.

“Em abril, tivemos uma queda muito brusca desses resultados. É compreensível que haja queda na comparação com 2019. Mas estamos tendo uma retomada gradual mês a mês, e isso é positivo”, explicou Leonardo Silva, pesquisador do instituto.

*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo