Anote na agenda: o Pix entra em operação em 16 de novembro. O novo sistema de pagamentos instantâneos, preparado pelo Banco Central (BC), será lançado com o intuito de permitir, de forma rápida e segura, transações financeiras a qualquer hora do dia e a qualquer dia da semana. Os interessados em enviar ou receber um Pix podem se cadastrar no sistema a partir de amanhã. O correntista deve se cadastrar nos canais digitais do banco em que já se tem conta. Anunciado em fevereiro pelo BC, o Pix está sendo preparado com atenção pelo sistema financeiro nacional. A novidade tem atraído a curiosidade de milhões de brasileiros, mas também já desperta a ambição de fraudadores.
O sistema de pagamentos instantâneos batizado de Pix já existe em outros países. Será utilizado pelas instituições financeiras para viabilizar pagamentos e transferências bancárias em tempo real, de maneira simples e digital, independentemente da hora ou do dia do ano. A adesão é obrigatória para os grandes agentes financeiros, mas também tem despertado a atenção de uma multiplicidade de agentes, entre bancos, cooperativas, instituições de pagamentos, fintechs, financeiras, entre outros. Para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, o Pix representa o início do processo tecnológico que vai moldar o sistema de intermediação financeira do futuro. E, por isso, foi desenhado com cinco premissas que tentam dar a essa revolução digital um caráter amplo e inclusivo. A ideia é criar um sistema rápido, barato, seguro, transparente e aberto.
Segundo o BC, 927 instituições financeiras já demonstraram interesse em operar o Pix, direta ou indiretamente. E 644 delas estão prontas para transacionar os pagamentos instantâneos; por isso, poderão cadastrar seus clientes a partir de segunda-feira. A lista completa dessas instituições está no site do BC e é atualizada de forma contínua.
O BC, por sinal, está permitindo o cadastro em outubro, 40 dias antes do início dos pagamentos instantâneos, justamente para estimular a competição entre as instituições. O objetivo é permitir que os consumidores tenham tempo de conhecer e entender as funcionalidades do Pix e, assim, garantir que o lançamento oficial do programa ocorra com um volume significativo de clientes e operações, em 16 de novembro.
Chaves
Para acessar o Pix, basta abrir o aplicativo bancário para ser informado dessa possibilidade. Quem fez o pré-cadastro, contudo, vai precisar confirmar os dados a partir de amanhã. “O BC permitiu que, ao longo de setembro, os bancos pudessem fazer um pré-cadastramento e antecipar algumas informações. Mas, a partir do dia 5 de outubro, as instituições terão que reconfirmar com a pessoa se ela quer se cadastrar. É um pré-cadastro. Então, as pessoas serão procuradas para confirmar as informações a partir de segunda”, explicou o diretor-executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federa;’ao Brasileira dos Bancos (Febraban), Leandro Vilain.
Na hora de confirmar esse cadastro, contudo, é preciso ter muita atenção. O que está sendo registrado agora são as chaves do Pix, isto é, as chaves pelas quais o cliente será identificado no sistema. É que, como prometem ser simples, os pagamentos instantâneos poderão ser realizados sem a apresentação dos dados bancários do destinatário do pagamento, como acontece hoje, em que é preciso informar, a agência, a conta e o CPF do recebedor de uma transferência, por exemplo. O Pix promete liberar essas transferências mediante a apresentação de dados simples, como o CPF, o telefone ou o e-mail do recebedor. Estas são as chaves do PIX, que devem ser cadastradas a partir de amanhã. Outra opção de chave é o QR Code, que poderá ser gerado por empresas e consumidores para ser lido pelo celular como um código de pagamento, seja de forma presencial, nas lojas, ou de forma digital, pelas conversas de WhatsApp, por exemplo.
“Não é necessário cadastrar uma chave para fazer ou receber um Pix. No entanto, o cadastramento da chave é altamente recomendável para receber um Pix. Ainda que você possa receber transações apenas informando os dados da sua conta, essa forma não tem a mesma praticidade que o uso da chave possibilita e pode gerar demora na iniciação da transação, diminuindo o benefício do pagador em fazer um Pix”, informa a assessoria do BC.
O cadastro dessas chaves, contudo, tem algumas limitações. O cliente não pode, por exemplo, cadastrar a mesma chave para contas diferentes. Por isso, se quiser usar o Pix em mais de uma conta, precisa identificá-las de forma diferente. É possível, por exemplo, reservar o nome para uma conta, o telefone para a outra e o e-mail para a terceira conta. A orientação é a mesma para pessoas jurídicas. Empresas que querem receber pagamentos instantâneos também podem se cadastrar no Pix a partir de amanhã, por meio dos canais tradicionais de relacionamento com o banco. O cadastro pode ser feito pelo aplicativo ou pelo internet banking — canais que, a partir de 16 de novembro, também serão o meio de iniciar um pagamento instantâneo. Em alguns bancos, também é possível se cadastrar nas agências e por telefone. Esses canais, no entanto, não garantem a gratuidade do Pix.
Leandro Vilain, da Febraban, explica que essa restrição para as chaves é necessária porque será por meio dessa informação que o sistema do Pix localizará a conta que deve receber o pagamento instantâneo. Se a mesma chave estiver em duas contas, o sistema não saberá ao certo em qual conta depositar o recurso. “Para cada conta, a pessoa física pode ter cinco chaves. A pessoa jurídica pode ter 20 chaves. Porém, é importante lembrar que a chave é única e direciona para um único ponto, pois, na hora em que recebe a instrução para a transferência, a instituição tem que encontrar uma única chave para encontrar a conta”, adverte. A Febraban assegura que, se porventura o correntista descobrir que seus dados já estiverem cadastrados em outras contas, será possível procurar os bancos para reivindicar suas chaves pessoais.
Dúvidas
Por conta dessas e de outras questões, a maior parte dos cadastros também direciona os clientes para uma página de apresentação do Pix. “O interesse pelo Pix disparou nas últimas semanas. A população, no geral, está tentando entender o que é, para que serve. E é natural, diante de uma tecnologia nova, que em alguns países demorou três anos para ser utilizada amplamente. Mas entendemos como uma oportunidade de pegar o consumidor pela mão e explicar melhor. Então, nesse momento de cadastro, temos trabalhado muito com a educação”, conta o diretor de marketing do Itaú, Guilhermo Bressane.
O Itaú, por exemplo, fez lives com os clientes e preparou tutoriais sobre o Pix. O Santander criou uma plataforma específica para os pagamentos instantâneos, o SX. E o Banco do Brasil apresenta um ‘perguntas e respostas’ no aplicativo. “Tem muita dúvida, porque é a grande novidade do ano do ponto de vista do mercado financeiro. E, a partir do dia 5, como começa o cadastramento, a procura deve crescer ainda mais. Por isso, estamos fazendo todos os testes para garantir que todos vão conseguir ter uma jornada tranquila para se cadastrar”, afirma o gerente executivo de meios de pagamento do Banco do Brasil, Gustavo Milaré.
Vilain confirma que a expectativa para amanhã é grande, mas lembra que não é preciso se desesperar em uma corrida aos serviços digitais dos bancos, pois os cadastros continuarão abertos. Da mesma forma, em 16 de novembro, não é preciso sair correndo pensando que o Pix vai acabar com outras transações. O sistema garante, por exemplo, que o Ted e o Doc não vão acabar, apesar de serem mais lentos e mais caros do que a nova modalidade. “Existe um potencial enorme de uso do Pix. Mas, os outros meios continuarão sendo disponibilizados. Vamos avaliar o uso dessas ferramentas com o tempo”, informa o diretor da Febraban.
Os bancos admitem que, por conta dessas dúvidas, o Pix pode até ser uma forma de inclusão bancária no futuro, pela praticidade e simplicidade que promete oferecer. “Boa parte dos brasileiros ainda não sabe exatamente o que é. Vai aprender no dia a dia, vendo o outro fazendo, experimentando. Então, é natural que haja um período de aculturamento. A pessoa primeiro entende, depois vai experimentar e só depois vai ter como costume. É um ciclo que nós estamos tentando acelerar. Ainda assim, deve levar de 12 a 16 meses para esse ciclo ser mais efetivo no dia a dia”, prevê o diretor do Segmento de Pessoa Física do Santander Brasil, Marcelo Labuto. Nem os bancos, nem o BC informam uma estimativa de quantos clientes devem aderir ao Pix.