Apesar de a taxa de desemprego estar em nível recorde, devido à crise gerada pela pandemia de covid-19, o mercado de trabalho formal deu sinais de recuperação em agosto. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 249,3 mil vagas de trabalho com carteira assinada foram abertas no país no mês, o melhor resultado para o período desde 2010.
O dado foi comemorado pelo ministro da economia, Paulo Guedes. “Estamos voltando em V”, afirmou Guedes. “Estamos muito próximos de retomar o mesmo nível de admissões do ano passado”, acrescentou o secretário de Trabalho, Bruno Dalcolmo.
O saldo de agosto é fruto de um aumento de 10% das contratações, que somaram 1,2 milhão, contra 990 mil demissões. O movimento de contratações foi sentido em todos os estados brasileiros e em todos os setores econômicos, inclusive o de serviços, o mais afetado pelas medidas de isolamento social. Em agosto, o segmento gerou 45,4 mil vagas formais, puxado pelas atividades financeiras, imobiliárias, profissionais, administrativas e de comunicação.
O secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, completou que o saldo é resultado das medidas emergenciais de emprego, renda e crédito implementadas pelo governo para combater os efeitos da pandemia.
Ressalvas
O bom resultado de agosto, porém, ainda não compensou todas as perdas da crise, já que, no ano, o saldo do mercado formal de trabalho é negativo em 849,4 mil vagas. E é visto com certa ressalva pelo mercado, já que, ainda ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que a taxa de desemprego bateu recorde, chegando a 13,8% no trimestre encerrado em julho.
Segundo o IBGE, existem 13,1 milhões de desempregados no país, além de 5,8 milhões de desalentados, e 32,9 milhões de trabalhadores subutilizados. Por isso, a população ocupada está no menor nível da série histórica (47,1%). E a edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Covid (Pnad Covid) já mostrou que o desemprego continuou avançando em agosto e setembro.
Economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause explicou que muitas empresas fizeram grandes demissões no início da pandemia, mas podem ter realizado algumas recontratações agora que as atividades estão reabrindo, o que influenciou o saldo do Caged. Porém, lembrou que essas contratações ainda não são suficientes para compensar todas as demissões da quarentena.
“A taxa de desemprego vai continuar subindo, porque muitas pessoas ainda não estão procurando emprego, mas, quando voltarem a buscar uma vaga, vão voltar a pressionar a taxa de desocupação. Além disso, muitas empresas ainda podem fazer demissões”, avaliou.
“Os desligamentos não aumentaram por conta dos programas governamentais. Com a reversão e a finalização desses programas, devem voltar a subir”, reforçou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, referindo-se tanto aos acordos de redução salarial, que, segundo o governo, evitaram a demissão de 11 milhões de pessoas, quanto ao auxílio emergencial, que tem ajudado a manter o movimento econômico em diversas regiões do país.
O governo, contudo, não acredita no aumento das demissões e espera que as contratações continuarão subindo até o fim do ano. Para Dalcolmo, o saldo anual do Caged pode ser até melhor do que os de 2015 e 2016, apesar da pandemia. Bianco reconheceu, por sua vez, que o governo ainda estuda uma forma de tirar do papel a sua principal aposta trabalhista para o pós-pandemia: a desoneração da folha, cuja negociação está travada, já que, para Guedes, deve caminhar junto com a criação de um tributo alternativo que compense a perda de arrecadação.