A recuperação da economia durante a pandemia está mais acelerada, com dados positivos de produção industrial. No entanto, segundo a economistas Zeina Latif, o auxílio emergencial se mostrou uma política de estímulo ao consumo, muito mais do que de ajuda, para prover a subsistência das classes mais vulneráveis durante a pandemia.
“Isso não tem nada a ver com o Renda Cidadã, que será um programa bem mais modesto. O auxílio emergencial atendeu a 67 milhões de pessoas com injeção de R$ 50 bilhões ao mês. Para comparar, o Bolsa Família custa R$ 30 bilhões ao ano. Nesse sentido, há uma artificialidade na nossa recuperação”, disse ela, na sua apresentação, nesta quarta-feira (28/10), durante o 7º Encontro da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP).
Latif explicou que o consumo foi puxado pelas classes populares, por conta do auxílio emergencial. “A velocidade de ajuste das camadas mas populares não será plenamente compensado pelas demais. Isso é um fator de atenção”, ressaltou. Segundo ela, as pessoas deixaram de consumir serviços e passaram a consumir mais bens, o que está provocando a recuperação quase em V na indústria. “Mas são fatores transitórios. A agenda governamental vai reduzir os estímulos”, alertou.
Setor externo
No setor externo, o Brasil tem vantagens em relação aos vizinhos da América Latica. “A China, que foi origem da pandemia, conseguiu evitar um contágio maior, com políticas de estímulo, e voltou a puxar o comércio mundial. O Brasil tem na China seu principal parceiro. Então, aspectos que eram considerados negativos da dinâmica de exportação do Brasil, como a dependência da China e foco em commodities, se tornaram uma bênção para o país nesta crise”, destacou.
A economista lembrou que o México depende de exportação de manufaturados para os Estados Unidos. A Colômbia depende do petróleo, que foi a commodity que mais sofreu, pela retração na demanda. A Argentina depende de exportação para o Brasil de manufaturados. “Esses países tiveram quedas do volume exportado, enquanto o Brasil não”, reforçou.
No cenário global, Latif comentou que a volta será mais rápida do que durante a crise internacional de 2008/2009. “Agora, a queda foi mais rápida e a recuperação também será. Lá atrás, a crise era financeira. Agora, é pandemia, com políticas de estímulo”, assinalou. Porém, a especialista frisou que o setor externo não é puxador de crescimento. “Ainda é a dinâmica interna.”
Conforme Latif, o comércio mundial pré-pandemia estava quase estagnado, então, passando a fase de recuperação, pode ocorrer um retorno a essa perda de ritmo. “A eleição dos Estados Unidos pode ter papel importante. Com a vitória de Joe Binden a agenda multilateral tende a ganhar força. Num primeiro momento, teremos queda, superação da crise, mas, lá adiante, talvez, o fortalecimento de agendas multilaterais.”
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