RETOMADA

Recuperação da economia está veloz, mas é artificial, diz especialista

Zeina Latif alerta que auxílio emergencial funciona como política de estímulo econômico que não irá se sustentar, porém ressalta que, no setor externo, Brasil tem vantagem

Simone Kafruni
postado em 28/10/2020 17:34 / atualizado em 28/10/2020 17:34
 (crédito: 
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )

A recuperação da economia durante a pandemia está mais acelerada, com dados positivos de produção industrial. No entanto, segundo a economistas Zeina Latif, o auxílio emergencial se mostrou uma política de estímulo ao consumo, muito mais do que de ajuda, para prover a subsistência das classes mais vulneráveis durante a pandemia.

“Isso não tem nada a ver com o Renda Cidadã, que será um programa bem mais modesto. O auxílio emergencial atendeu a 67 milhões de pessoas com injeção de R$ 50 bilhões ao mês. Para comparar, o Bolsa Família custa R$ 30 bilhões ao ano. Nesse sentido, há uma artificialidade na nossa recuperação”, disse ela, na sua apresentação, nesta quarta-feira (28/10), durante o 7º Encontro da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP).

Latif explicou que o consumo foi puxado pelas classes populares, por conta do auxílio emergencial. “A velocidade de ajuste das camadas mas populares não será plenamente compensado pelas demais. Isso é um fator de atenção”, ressaltou. Segundo ela, as pessoas deixaram de consumir serviços e passaram a consumir mais bens, o que está provocando a recuperação quase em V na indústria. “Mas são fatores transitórios. A agenda governamental vai reduzir os estímulos”, alertou.

Setor externo

No setor externo, o Brasil tem vantagens em relação aos vizinhos da América Latica. “A China, que foi origem da pandemia, conseguiu evitar um contágio maior, com políticas de estímulo, e voltou a puxar o comércio mundial. O Brasil tem na China seu principal parceiro. Então, aspectos que eram considerados negativos da dinâmica de exportação do Brasil, como a dependência da China e foco em commodities, se tornaram uma bênção para o país nesta crise”, destacou.

A economista lembrou que o México depende de exportação de manufaturados para os Estados Unidos. A Colômbia depende do petróleo, que foi a commodity que mais sofreu, pela retração na demanda. A Argentina depende de exportação para o Brasil de manufaturados. “Esses países tiveram quedas do volume exportado, enquanto o Brasil não”, reforçou.

No cenário global, Latif comentou que a volta será mais rápida do que durante a crise internacional de 2008/2009. “Agora, a queda foi mais rápida e a recuperação também será. Lá atrás, a crise era financeira. Agora, é pandemia, com políticas de estímulo”, assinalou. Porém, a especialista frisou que o setor externo não é puxador de crescimento. “Ainda é a dinâmica interna.”

Conforme Latif, o comércio mundial pré-pandemia estava quase estagnado, então, passando a fase de recuperação, pode ocorrer um retorno a essa perda de ritmo. “A eleição dos Estados Unidos pode ter papel importante. Com a vitória de Joe Binden a agenda multilateral tende a ganhar força. Num primeiro momento, teremos queda, superação da crise, mas, lá adiante, talvez, o fortalecimento de agendas multilaterais.”

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