Empreender durante a pandemia foi um dos grandes dilemas impostos aos pequenos negociantes. Com a mudança repentina do modo de trabalho, a criatividade e a inovação precisaram ser exploradas. E nessa última, as brasileiras saíram na frente. De acordo com a Pesquisa de Impacto da Pandemia nos Pequenos Negócios, realizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), 71% das mulheres inovaram durante os dias de isolamento para manter as vendas. Entre os homens, esse índice ficou em 63%.
“Todos os setores sofreram com a pandemia, mas o pequeno empreendedor, que nós analisamos na pesquisa, foi o que mais sentiu o peso dos dias de portas fechadas. Outros dados que levantamos mostraram que a reserva que essas pessoas tinham por volta de fevereiro e março era suficiente para apenas 23 dias sem abrir. A maioria ficou três meses. Por isso, decidimos acompanhar o que estava sendo feito para esse pequeno empreendedor manter sua renda”, explicou Rafael Moreira, analista de competitividade do Sebrae.
A empresária Priscila Macedo foi uma das mulheres que inovou durante os dias de isolamento social. A proprietária de uma clínica de estética contou que até ampliou o negócio. “No tempo em que ficamos fechados, estávamos fazendo nosso projeto de ampliação, foi o momento ideal para planejarmos os próximos passos da empresa”, afirmou. A Expose, clínica especializada em estética, comandada por Macedo, abriu uma nova unidade na Asa Norte e conta com uma equipe de 13 pessoas treinadas e capacitadas. Com essa, a clínica conta com duas unidades na capital do país.
A 7ª edição da pesquisa realizada em agosto mostrou que o uso das redes sociais foi a principal mudança realizada por esses empreendedores. Das 71% das empreendedoras, 53% já faziam vendas on-line antes da pandemia. Dos 63% de empreendedores do sexo masculino, apenas 49% afirmaram que já trabalhavam com o e-commerce. O segundo fator indicado pela pesquisa foi a entrega por delivery: 19% das entrevistadas disseram que passaram a trabalhar dessa maneira, contra 14% dos homens.
Conforme afirmou Rafael Moreira ao Correio Braziliense, os números mais recentes mostram que 42% das mulheres passaram a vender ou fabricar produtos e serviços durante a pandemia. Em relação aos homens, foram 37%.
A engenheira Ariane Melo, de 22 anos, perdeu o emprego na pandemia e se viu sem renda nos primeiros dias de isolamento. “Nesse momento, eu percebi que precisava me movimentar, foi quando surgiu a ideia de abrir meu próprio negócio”, relatou. Ela investiu na produção e comercialização de doces e bolos e contou com o apoio das redes sociais para divulgar o trabalho. “Fiquei cinco meses tendo os doces como minha única fonte de renda”, disse.
A ex-bancária Mariluce Cordeiro também se arriscou neste período. No ramo do empreendimento desde 2001, ela abriu mais uma unidade da Microsom, clínica em que é a diretora-geral. “Mesmo em meio às incertezas, inovamos e expandimos, gerando novas oportunidades de emprego. Hoje, podemos atender em Taguatinga, Águas Claras, Samambaia, Ceilândia e Vicente Pires”, afirmou. Ao total, são 17 pessoas empregadas.
Na visão da especialista em empreendedorismo Juliana Guimarães, as mulheres se destacarem em qualidade e inovação já não é mais questão de representatividade. “Existem motivos para uma mulher chegar a altos cargos de chefia. Ela mostra eficiência e traz resultados reais para a empresa, tanto em inovação quanto em faturamento”, frisou. “E esse é o fio condutor do nosso trabalho, pois, além das questões de trabalho, temos casa e família. E essa sobrecarga ficou evidente durante a pandemia”, emendou ela, pós-graduada em gestão de empresas.
E motivos não faltam. Dados divulgados pela consultoria estratégica Boston Consulting Group (BCG) mostram que startups fundadas por mulheres apresentam um retorno maior de 100% quando comparadas com as chefiadas por homens. “O mercado possui uma diferença de equidade absurda. As mulheres testam e avaliam as coisas justamente por existir uma competitividade maior. O que eu posso falar é que se você quer ter uma empresa mais inovadora, com faturamento maior nesse ramo e que possa gerar maior sustentabilidade no mercado, é preciso trazer diversidade para o quadro da alta gestão”, explicou Juliana Guimarães.
Rafael Moreira destacou o motivo para esses resultados. “Além de precisarem se esforçar mais, com as tarefas domésticas, filhos e trabalho, as mulheres são mais preparadas e instruídas. Nosso último levantamento mostrou que 61% das empreendedoras possuem, no mínimo, ensino superior incompleto. Dessas, 20% têm pós-graduação, mestrado ou doutorado. Enquanto entre os homens, 56% alegam ensino superior incompleto e apenas 15% com formações além disso”, ressaltou.
*Estagiária sob supervisão de Cida Barbosa
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