Em meio à crise econômica causada pela pandemia, o país demonstra os primeiros sinais claros de retomada econômica. É o que diz o Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (Iace), publicado por meio de uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e The Conference Board (TCB). Segundo o levantamento, o índice subiu 1,2% em setembro, passando para 121,9 pontos. O resultado é 1,9 ponto acima do registrado em fevereiro de 2020, período pré-pandemia.
O indicador tem como objetivo fornecer informações que permitam calcular expectativas para a economia. Já o Indicador Coincidente Composto da Economia Brasileira (ICCE), que mede as condições econômicas atuais, apresentou estabilidade em setembro: 103,9 pontos, com variação positiva acumulada de 1,8% nos seis meses anteriores.
Paulo Picchetti, coordenador do IPC Brasil do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, explica que ambos os indicadores são compostos, pois levam em consideração outros indicadores e dados sobre a percepção econômica de consumidores e empresários. "Tanto o Indicador Coincidente quanto o Antecedente são calibrados para calcular ciclos econômicos. O Antecedente tenta prever uma reversão de ciclo. Os dois são indicadores compostos, agregações de diferentes variáveis. Estatísticas mostram que essa é a melhor forma de prever expectativas para a economia", afirma.
Para calcular o Antecedente (Iace), conta ele, utiliza-se sondagens de confiança do consumidor, juros futuros, leva-se em consideração o índice Ibovespa (principal da bolsa de valores brasileira), entre outros, como o Índice de Quantum. No Coincidente, observa-se a produção industrial, dados do mercado de trabalho, salário real, consumo de energia elétrica. Os resultados, explica Picchetti, apontam para uma retomada da atividade econômica.
"Já é possível inferir que o PIB do terceiro trimestre deverá ser positivo. Os indicadores mostram uma recuperação em relação ao segundo trimestre, onde houve uma queda grande. Há uma retomada da atividade econômica, mas ainda não é expressiva. Isso porque ainda existe uma série de incertezas sobre a crise sanitária, o que prejudica as expectativas econômicas. O pior parece ter ficado para trás, mas essa recuperação ainda está sujeita a essas incertezas que impedem um crescimento maior", detalha.
Confiança
Vale lembrar que a confiança de empresários e consumidores registrou queda em outubro, segundo prévia de sondagens feitas pela própria FGV e divulgada nesta quinta-feira (15). Segundo o instituto, com relação ao final de setembro, até o dia 14 deste mês, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) diminuiu 1,1 ponto, passando para 96,4 pontos, enquanto o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 3,9 pontos, indo para 79,5 pontos. Incertezas sobre emprego, a alta da inflação e fim de benefícios emergenciais são principais motivos para queda de confiança.
Economista pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp), Felipe Queiroz questiona o otimismo em torno dos indicadores. Para ele, ainda não há sinais claros de melhora porque não há, por parte do governo, esforços expressivos que possibilitem uma retomada. "A recuperação econômica não será em formato de V porque não há nenhuma medida efetiva voltada para a recuperação da economia. O governo se empenhou mais em salvar a economia do que vidas, diferentemente de outros países. Houve uma retomada das atividades à força, isso refletiu nesses indicadores. Mas isso não significa uma recuperação, a menos que esses fossem os únicos indicadores para analisar a economia brasileira. Mas temos indicadores de desemprego, inadimplência e outros que nos mostram que a situação continua ruim", argumenta.
Na avaliação de Queiroz, esses indicadores podem piorar quando os benefícios emergenciais concedidos na pandemia chegarem ao fim. Atualmente, o auxílio emergencial, que é considerado como "injeção na veia do consumo" está mantido, com pagamento de R$ 300, até dezembro. "Quando o governo cortar o benefício, os efeitos econômicos negativos que estão sendo retardados virão com força total. O consumo está em baixa nas famílias, não há como negar. A classe média tem condições de guardar uma reserva financeira em um momento como esse, mas a classe popular, trabalhadora, não tem essa possibilidade", afirma o economista.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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