O custo de vida subiu para todos. Quem menos ganha, no entanto, teve mais dificuldade de colocar comida na mesa. Dados do Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontam que, de janeiro a setembro deste ano, a inflação para a população com renda muito baixa chegou a 2,5%, o que significa mais de oito vezes a registrada para a parcela de renda alta (0,2%). No acumulado de 12 meses, de outubro de 2019 a setembro de 2020, a inflação cresceu em todas as faixas da população, mas foi maior (4,3%) para a classe de renda muito baixa, e menor para a parcela mais rica (1,8%).
Somente em setembro, a variação de preços dos produtos consumidos pelos mais pobres foi de 0,98%, bem acima da verificada para a classe mais rica (0,29%). No primeiro grupo estão famílias com rendimentos domiciliares mensais de até R$ 1.650,00. No outro, as com ganhos que ultrapassam R$ 16.509,66 por mês. O que pesou mais, entre os que recebem menos, representando quase 75% da taxa de inflação, foram alimentos e bebidas, principalmente arroz (18%), óleo de soja (28%) e leite (6%), além de materiais de limpeza (1,4%) e gás de botijão (1,6%).
No caso dos mais ricos, o impacto de alimentos e gasolina (2%) foi atenuado pelo recuo nos planos de saúde (-2,3%) e nas mensalidades de cursos diversos, como os de idiomas (-1,5%) e informática (-1,6%).
No ano, a desaceleração dos preços dos serviços também proporcionou um alívio aos mais ricos: os serviços livres registraram deflação de 0,05%, devido, principalmente, às passagens aéreas (-55%), preços de hospedagem (-9%) e mensalidades das creches (-1,7%).
Na comparação com setembro de 2019, a inflação das famílias de menor renda avançou mais — com um salto de -0,10% para uma alta de 0,98% —, enquanto para a classe mais rica a evolução foi menos significativa (0,27 ponto percentual).
Futuro incerto
Especialistas têm opiniões divergentes quanto às perspectivas de melhoras na vida cotidiana dos mais pobres, por causa do perfil de consumo dessas famílias, que têm nos alimentos o maior peso dos gastos. Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, prevê que, em 2020, a inflação chegue a 2,5%, subindo para 3,5%, em 2021. “A taxação dos produtos básicos é bastante elevada. E como a reforma tributária ainda não avançou, os impostos em escala afetam muito os orçamentos. Não importa se o vilão, agora, foram alimentos e bebidas. Os mais pobres, no geral, perdem mais com o aumento do custo de vida e isso não deve mudar no curto prazo”, ressaltou Vieira.
Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, a inflação, neste ano, chegará perto dos 3%. Em 2021, será de 3,2%. No entanto, apesar da previsão de avanço nos índices inflacionários, Rosa ressalta que as perspectivas são de melhora na atividade econômica. Assim, é natural que os preços fiquem mais salgados. “Mas, talvez, não os preços dos alimentos e transportes, por exemplo, porque já tiveram alta significativa este ano. Eles devem se estabilizar e, com o possível aumento do emprego e da renda, essa inflação que agora vem incomodando tende a se diluir ou estancar”, afirmou Newton Rosa.
4,3%
Inflação dos últimos 12 meses para as famílias com renda de até R$ 1.650, segundo o Ipea. Para as que ganham acima de R$ 16,5 mil, índice foi de 1,8%
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