É cada vez maior a tendência do brasileiro em se lançar no empreendedorismo. Apenas no Brasil, o mês de setembro de 2020 contabilizou quase 2 milhões de registros de Microempreendor Individual (MEI) a mais do que no mesmo período do ano passado. Além disso, o termo "Abrir MEI" registrou aumento de 222% nas buscas do Google, de acordo com levantamento realizado pela SEMrush — o que reforça o interesse pela formalização empreendedora como alternativa ao desemprego durante a crise.
De acordo com o Portal do Empreendedor do Governo Federal, setembro fechou com 10.900.457 de cadastros MEI. Em comparação com o mesmo período do ano anterior (9.031.164), são 1.869.293 de registros a mais.
Para o economista Hugo dos Santos, o aumento pode ser explicado pelo “momento que estamos vivenciando, da pandemia do coronavírus. Há uma maior busca por soluções rápidas e o interesse em não querer ficar refém da empresa, na expectativa se hoje ou amanhã serei mandado embora, sabendo que preciso do salário para pagar contas de casa e dívidas".
Além disso, em um cenário de juros baixos, de 2% ao ano, o empreendedorismo se torna uma via para obter maiores ganhos financeiros. “Com o juro baixo, o investidor tende a sacar recursos de renda fixa e correr para renda variável, ou a abrir o próprio negócio, com Selic a 2% ao ano", analisa o especialista.
Hugo ressalta, também, que o próprio governo tem estimulado o empreendedorismo. "A ideia do governo é desburocratizar a abertura de empresas para incentivar as pessoas a fazerem esse dinheiro girar na economia, retirando do mercado financeiro. Isso acaba sendo positivo para geração de empregos e aumento da concorrência. Consequentemente, vem a inovação. Alguém que hoje empreende e inova ao mesmo tempo está à frente do grande sucesso", acredita.
Oportunidade
Karol Ferreira, 34 anos, é formada em direito, mas decidiu abrir a própria loja de roupas. “Eu sempre gostei muito de vender, sempre dava um jeito de vender algo. Com essa pandemia, vi uma oportunidade única para vender o que mais gosto, que são roupas femininas", conta. Ela começou a atuar no varejo em junho.
A economista da Reag Investimentos Simone Pasianotto acredita que a maior procura pelo MEI pode ser uma escolha das próprias empresas. Por vezes é mais vantajoso contratar um prestador de serviços do que um trabalhador pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). “Para quem está sendo contratado, essa escolha pode ser mais benéfica também. Por outro lado, podemos associar essa tendência ao aumento de desemprego. Criar o próprio negócio e fazer seu próprio registro pode ser a única saída para quem não consegue se encaixar no mercado de trabalho da forma tradicional", pontua Pasianotto.
"Se a pessoa que trabalhava como vendedor, manicure ou cabeleireiro foi demitida em razão das dificuldades impostas pelo isolamento, ela pode voltar a trabalhar com o MEI. As empresas e os comércios enxergam nisso uma forma de economizar", destaca.
Victor Gomes, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), conta que o Brasil tem passado por uma crise que vem desde 2015, em um processo de abre e fecha das empresas. “Temos que analisar que empresas já existentes podem reabrir e (empresas) novas podem entrar no lugar daquelas que fecharam permanentemente. Esse movimento é natural e pode acontecer em maior proporção em um cenário como o que vemos atualmente."
*Estagiárias sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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