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Confiança do consumidor é a menor em dois anos, mostra CNI

Pandemia aumenta o receio quanto à manutenção de emprego e renda. Entre os mais instruídos e os indivíduos com maior renda o ceticismo disparou

Israel Medeiros*
Carinne Souza*
postado em 01/10/2020 15:22 / atualizado em 02/10/2020 08:17
Pandemia deixou o consumidor reticente e índices desabaram. Preocupação continua sendo com a perda do emprego -  (crédito: Werther Santana/Estadão Conteúdo)
Pandemia deixou o consumidor reticente e índices desabaram. Preocupação continua sendo com a perda do emprego - (crédito: Werther Santana/Estadão Conteúdo)

A confiança do consumidor atingiu seu pior nível desde junho de 2018. De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) de setembro ficou em 42,8 pontos. O resultado é 3,3 pontos menor do que a média histórica (46,1) e 4,5 pontos abaixo do último resultado, de dezembro de 2019. A queda foi registrada em todos os perfis considerados pelo levantamento.

O principal motivo é a crise causada pela pandemia do novo coronavírus. Segundo o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo, a instabilidade causada na pandemia afetou a confiança dos consumidores "Esse consumidor está preocupado, pois percebe uma piora na sua situação financeira. O emprego pode ser incerto, seu salário pode ser reduzido e isso diminui seu nível de confiança em relação ao consumo", explica.

É o caso da nutricionista Midiã Ribeiro, 25, que conta que o medo de perder o emprego a fez poupar dinheiro. "Achei que fosse perder meu emprego no início da pandemia porque sou do grupo de risco, então a empresa não poderia deixar eu trabalhar. Devido à minha condição, eles me afastaram e me deram férias para não me mandar embora. A partir disso, comecei a guardar dinheiro, porque já estava me prevenindo. Caso eu fosse demitida, precisaria de um recurso para pagar minhas dívidas, porque os boletos não param de chegar", relata a nutricionista.

A jovem chegou a ser afastada, mas afirma que viu vários colegas serem demitidos. Passada a pior parte da pandemia, contudo, pôde voltar ao trabalho presencial e se viu mais tranquila para voltar a consumir. "Minha preocupação era ter que procurar outro emprego que pagasse menos. Até porque, na hora do desespero, a pessoa aceita qualquer coisa. Ao perceber que estava garantida no emprego, passei a comprar mais do que antes. Até extrapolei os gastos", brinca.

No índice de situação financeira divulgado pela CNI, os números de agosto mostram uma piora, com 45,3 pontos. Para que seja considerada uma tendência de melhora na condição, a pontuação deve ficar acima de 50. Marcelo Azevedo explica que isso pode ter ocorrido devido ao auxílio emergencial.

"Apesar de não existirem dados que apontem explicitamente a causa dessa variação, o pagamento do auxílio emergencial gerou confiança naquelas famílias que estavam recebendo o benefício. Pois, mesmo com dificuldades em relação ao emprego e/ou salário, o auxílio gerou uma confiança na possibilidade de compras. Diferentemente daquelas famílias com renda superior que não estavam recebendo", diz o gerente de análise econômica da CNI.

Instrução maior, queda maior

Entre os mais instruídos, a queda da confiança foi mais acentuada. A pesquisa demonstrou que, quanto maior o nível de instrução, maior a queda. Entrevistados que estudaram até a 4ª série do ensino fundamental tiveram queda na confiança em 2,1 pontos; entre a 5ª e a 8ª série, redução de 3,7; os que concluíram o ensino médio tiveram queda de 4,6; já aqueles com ensino superior baixaram em 6,8 pontos.

O índice também caiu mais entre moradores da região Sudeste e aqueles com maior renda. Consumidores com renda familiar superior a cinco salários mínimos apontaram perda de confiança em 7,4 pontos. Em seguida, estão as seguintes categorias: consumidores com ensino superior (-6,8 pontos), com idade de 25 a 34 anos (-5,5 pontos) e que moram em capitais (-5,3 pontos).

Já a expectativa de renda dos consumidores, que esteve estacionada em 50 pontos nas últimas duas publicações do levantamento (o que significava uma estabilidade), desta vez apresentou pontuação de 44,5, indicando tendência de queda. Expectativas de inflação e desemprego estão em tendência de alta, com 71,4 e 65,1, respectivamente.

*Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi

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