A redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 deve reduzir em quase 20% a renda dos domicílios mais pobres, que hoje têm sido em boa parte sustentados pelo auxílio emergencial. É o que revela um estudo publicado nesta terça-feira (29/09) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Cálculos do Ipea, realizados com base nos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que as famílias de renda muito baixa hoje têm recebido apenas R$ 367 por mês por meio do trabalho. Isto é, apenas 68% do rendimento que conseguiram tirar das suas atividades profissionais antes da pandemia de covid-19.
Essas famílias, porém, têm conseguido se sustentar por conta dos pagamentos do auxílio emergencial e dos demais programas sociais do governo. O Ipea estima que essas políticas conseguiram elevar para R$ 1.168,30 a renda domiciliar média das famílias de baixa renda no mês passado. Porém, projeta que esse rendimento vai cair para R$ 941,53 a partir deste mês de setembro, já que o auxílio será reduzido de R$ 600 para R$ 300.
"Entre os domicílios de renda muito baixa, a diminuição do auxílio emergencial pode reduzir a renda domiciliar em cerca de 20%", concluiu.
O Ipea também calcula que, de modo geral, a renda média dos domicílios brasileiros vai sofrer um baque devido ao corte do auxílio. Neste caso, o corte será de 5,2%. É que, em agosto, a renda total efetiva dos lares brasileiros foi de R$ 3.828,58. Porém, esse rendimento médio deve cair para R$ 3.628,49 com o auxílio de R$ 300.
Por conta disso, o Ipea acredita que o auxílio emergencial não será mais suficiente para cobrir todas as perdas de renda sofridas na pandemia de covid-19. A expectativa é que, no geral, a renda domiciliar efetiva dos domicílios de baixa renda fique 2% abaixo da renda habitual neste mês. Nos lares de renda muito baixa, contudo, ainda haverá uma compensação. O incremento deve ser de 6%, contra os 32% observados em agosto.
O Ipea pondera, por sua vez, que há uma "expectativa que as diferenças entre as rendas efetivas e habituais continuem se reduzindo nos próximos meses, mitigando, dessa forma, o impacto da redução do auxílio emergencial". Afinal, a flexibilização do isolamento social tem permitido a retomada de uma série de atividades econômicas, inclusive dos trabalhadores informais, que são o foco do auxílio emergencial.