A crise do novo coronavírus continua agravando a situação das contas públicas brasileiras. Por isso, a União elevou para R$ 861 bilhões a projeção do déficit primário do governo central neste ano. É quase 12% do Produto Interno Bruto (PIB), um recorde para a série histórica brasileira.
A projeção anterior era de um rombo de R$ 787,4 bilhões e foi atualizada nesta terça-feira (22/09) pelo Relatório de Receitas e Despesas do 4º bimestre. Publicado pelo Ministério da Economia, o relatório explica que a crise do novo coronavírus segue aumentando as despesas e contraindo a arrecadação do governo federal.
Segundo o documento, as despesas públicas vão chegar a R$ 2,046 trilhões neste ano. A projeção é R$ 63 bilhões maior do que o esperado anteriormente porque, ao longo do quarto bimestre, o governo até conseguiu reduzir alguns gastos previdenciários, tributários e de pessoal, mas também emitiu mais R$ 84,4 bilhões de crédito extraordinário para fazer frente às ações de combate à covid-19. A maior parte dos créditos (R$ 67,6 bilhões) diz respeito à prorrogação, em mais quatro parcelas de R$ 300, do auxílio emergencial.
Já no lado das receitas, o governo reduziu de R$ 1,456 trilhão para R$ 1,446 trilhão a perspectiva de arrecadação de 2020. A frustração se explica tanto por conta da queda de arrecadação das receitas administradas, afetadas pela desaceleração econômica causada pela covid-19, quanto pela perspectiva de queda da receita previdenciária, reflexo do aumento do desemprego e da redução da massa salarial. Ainda contribuiu com essa revisão a redução das receitas provenientes da exploração de petróleo.
Indicadores macroeconômicos
O governo federal manteve a perspectiva de uma queda de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020. Já a projeção para a inflação subiu, por conta da recente alta de preços dos alimentos, que tem pressionado o índice. A previsão para a inflação oficial brasileira de 2020 subiu de 1,6% para 1,8%, já a perspectiva da inflação da baixa renda foi de 2,1% para 2,4% no Relatório de Receitas e Despesas do 4º Bimestre.
Sem Waldery
O Relatório de Receitas e Despesas normalmente é apresentado em uma longa coletiva de imprensa pelo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues. Porém, desta vez, foi divulgado só à noite, sem quaisquer declarações do secretário, apenas por meio de nota.
O secretário, que foi ameaçado com um cartão vermelho do presidente Jair Bolsonaro na semana passada, por ter revelado o plano da equipe econômica de congelar aposentadorias e pensões para bancar o Renda Brasil, segue, portanto, sem dar declarações públicas desde então. Nos bastidores, comenta-se que o ministro da Economia, Paulo Guedes, de fato pediu que seu secretariado continuasse em silêncio e só falasse sobre assuntos que já estão acordados com o Planalto. Seria uma estratégia para evitar novos desgastes.