Com a disparada dos preços dos alimentos, muita gente está se virando como pode para colocar comida à mesa e reduzir o impacto da inflação no bolso. E, nesse malabarismo em meio à crise provocada pela pandemia, o jeito é ser criativo na hora de escolher o que vai para o carrinho, optando por opções mais baratas ou mudando o cardápio, substituindo produtos.
Ávilla Cristina Dias dos Santos, de 18 anos, é atendente de caixa em um supermercado. Por trabalhar no varejo, ela reconhece que é impossível não notar a diferença dos preços. “Dá para perceber a inflação no dia a dia. E pensar que grande parte da população não tem condições de comprar o alimento básico devido a essa variação de preços, gera preocupações em várias áreas. Tenho tentado diminuir o consumo de arroz, mas é um alimento essencial na vida de qualquer brasileiro”, revela.
Para ela, decidir sobre a substituição de alimentos é algo que varia de pessoa para pessoa, mas acredita que o governo deveria intervir para tentar conter a inflação de produtos que estão sendo exportados, reduzindo os estoques domésticos, como aconteceu com o arroz. “Considero ruim a atuação do governo, pois as exportações deveriam ser controladas. Não é justo retirarem algo nosso, chegando a ponto de prejudicar os brasileiros”, desabafa.
Já o consultor de vendas Lucas Moreira, 22, mora com o pai, o microempresário Francisco Chagas de Oliveira, 45, em Cidade Ocidental (GO). Francisco é chef de cozinha e, com o isolamento social, os eventos diminuíram ou foram cancelados e ele e o filho passsaram a vender marmitas para sustentar a família. “Agora, estamos dependendo do dinheiro do auxílio emergencial ou de quando vendemos marmita”, conta Lucas. Ele diz que começou a perceber a alta nos preços há 15 dias, mas de forma generalizada. “Um absurdo, na verdade não só o arroz está caro. O quilo do tomate, por exemplo, passou de R$ 1 para R$ 7”, reclama o consultor. Buscando minimizar o impacto da inflação no bolso, Lucas reformulou as compras e o cardápio em casa. “Precisei diminuir as porções de arroz e substituir por outra coisa, como purê e macarrão”, afirma.
Paulo Melo, CEO da Pricebook e Ph.D em pesquisas voltadas para Inovação pelo WIT, na Irlanda, orienta que é importante o acompanhamento do histórico de preços dos produtos de consumo recorrente. “É uma estratégia importante na hora de tomar a decisão de compra e, ainda, não se deixar levar pelos anúncios atrativos de promoções, que não levam em consideração a variação de preço ao longo do tempo”, avalia.
Para o especialista, a redução do valor do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, como prevê o governo, não afetará a demanda por alimentos, porque ela deverá continuar em alta. “O efeito dessa redução do benefício não afetará a demanda de alimentos na mesma proporção. Esta, por sua vez, deverá permanecer em patamares mais altos do que o período pré-confinamento. Talvez, outros setores que vislumbraram aumentos de vendas expressivos, como os setores de móveis, de eletrodomésticos e até de materiais de construção, deverão, sim, ter suas vendas reduzidas por essa possível queda no valor do auxílio emergencial”, conclui.
* Estagiários sob a supervisão de Rosana Hessel