Apesar da recente alta na inflação dos alimentos, o Banco Central deve manter a taxa básica de juros Selic em 2% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa terça e termina na quarta-feira da semana que vem. Segundo especialistas, o aumento nos preços de produtos alimentícios é pontual, não deve se manter por muito tempo e tampouco influenciará a decisão do BC sobre juros. Além disso, alguns itens do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda registram deflação no acumulado do ano.
Segundo Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, “o mercado está com viés de alta de juros, mas para o ano que vem”. “Esse choque dos alimentos não é suficiente para subir a taxa. O BC deve manter a Selic em 2% ao ano e aguardar choques secundários para ver o impacto na inflação”, ressaltou.
José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimento, também aposta na manutenção dos juros. “O aumento no preço dos alimentos é resultado da maior demanda chinesa e do consumo doméstico, reflexo do auxílio emergencial”, explicou. A taxa de câmbio desvalorizou-se e isso também afeta a carestia dos produtos alimentícios, segundo ele. “Há outras razões para o BC não mexer nos juros agora. Tem risco fiscal, tanto que a taxa de juros longa está bastante alta. Mas, como as expectativas para inflação estão ancoradas, não faz sentido aumentar a Selic”, disse.
Economista-chefe do Banco Haitong, Flavio Serrano, tem a mesma visão. “Talvez o BC faça alguma atualização no comunicado, porque os dados vêm mostrando recuperação. O varejo já ultrapassou o nível pré-pandemia. Para a indústria, falta pouco. Mas os serviços ainda estão rodando no negativo”, explicou. Segundo ele, a inflação dos alimentos subiu, porém o IPCA de preços administrados está em 0,5% e dos serviços, em 1%. “Em 12 meses, o acumulado é de 2,40%. E para 2021, seguirá abaixo da meta. Não há motivo para subir juros por enquanto”, assinalou.
Serrano lembrou, no entanto, que o índice da inflação no atacado, o IGP-DI, em 12 meses, está em 21,6%. “Isso está chegando no varejo. Mas existem diferenças metodológicas. No IGP, a soja pesa muito; no varejo, o efeito é secundário, via ração de animais, portanto, no preço das carnes. Houve choque de oferta. Isso não vai perdurar e, com a normalização, a inflação dos alimentos vai cair e neutralizar o efeito”, afirmou.