Roberto Campos Neto

Perspectiva é de crescimento superior a 4% do PIB em 2021, diz presidente do BC

Campos Neto disse nesta terça-feira (2/9) que a queda de 9,7% do PIB no segundo trimestre era esperada devido aos impactos da pandemia do novo coronavírus

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acredita que, apesar do baque histórico registrado no auge da pandemia de covid-19, a economia brasileira já está em um processo de recuperação progressiva. Por isso, diz que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve cair 5% neste ano, mas já projeta um crescimento de 4% para 2021.

Campos Neto disse nesta terça-feira (2/9) que a queda de 9,7% do PIB no segundo trimestre era esperada devido aos impactos da pandemia do novo coronavírus, apesar de o dado dos serviços, que representam quase 2/3 do PIB do Brasil, ter vindo um pouco pior do que o esperado. Porém, garantiu que esse indicador reflete um nível de atividade que já foi superado pelo Brasil.

"É como olhar no espelho retrovisor", comparou Campos Neto. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também fez uma analogia para se referir ao resultado do PIB, divulgado nessa terça-feira (01/09) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Guedes, o baque de 9,7% é reflexo de um "som distante".

Em evento promovido pela Bloomberg, Campos Neto explicou que dados mais recentes indicam que a economia brasileira já está se recuperando do choque sofrido no início da pandemia e lembrou que o agronegócio não sentiu esse baque. "Estamos vendo a economia recuperar. Dados mais recentes, das últimas cinco semanas, mostram que estamos começando a recuperar", garantiu o presidente do BC, que enxerga uma recuperação progressiva nos próximos trimestres.

Campos Neto acredita que o PIB do terceiro trimestre já será positivo e diz que o quarto trimestre também deve vir melhor que o esperado, apesar da situação fiscal do Brasil. Por isso, acredita que a queda do PIB em 2020 ficará perto de 5%, ao contrário dos quase 10% de retração imaginados por alguns organismos internacionais no início da pandemia. "Estamos vendo as instituições revisitando suas projeções para melhor. Falavam de -9%, agora já falam de -5%, -5,5%", ressaltou.

Ele também disse que, por conta dessa perspectiva de recuperação progressiva, o PIB do Brasil deve ter um crescimento de 4% já no próximo ano. "Temos dois grupos de projeções. Um grupo está revisando para melhor as projeções deste ano, porque os estímulos foram grandes, e diminuindo para o próximo ano. Mas outro grupo projeta uma recuperação forte, vê uma reação melhor esse ano, sem mudar as projeções para o próximo ano", frisou.

Campos Neto mostrou-se otimista em relação ao crescimento de 2021 por conta do início dessa reação, mas também da perspectiva de que o Brasil volte para o caminho das reformas e do ajuste fiscal no próximo ano. Ele explicou que os programas emergenciais criados para o enfrentamento da pandemia acabam em 31 de dezembro e disse que, pelas conversas que têm tido com os parlamentares, não devem ser estendidos. Por isso, acredita que será possível voltar aos trilhos no próximo ano, apesar da deterioração fiscal causada pela pandemia.

O presidente do BC acredita, então, que hoje o maior risco para a economia brasileira é a eclosão de uma segunda onda da pandemia de covid-19. Porém, garantiu que essa possibilidade não está sendo considerada, devido à expectativa de que haja uma vacina contra o coronavírus em breve.

Ele ressaltou, por sua vez, que o crescimento econômico no pós-coronavírus deve ser inclusivo, sustentável e tecnológico. E admitiu que o Brasil deve estar atento em relação a isso, sobretudo na questão do meio ambiente. "As pessoas estão demandando programas inclusivos, sustentáveis. [...] Precisamos mostrar ao mundo que estamos comprometidos com a sustentabilidade", disse.

Já sobre a questão da inclusão, Campos Neto afirmou que o governo brasileiro está atento à situação dos milhões de brasileiros de baixa renda que foram descobertos pelo auxílio emergencial. Ele disse que o governo sabe que tem "20 ou 25 milhões de pessoas" que precisam de assistência, mas também sabe das suas limitações fiscais. Por isso, está avaliando saídas para essa situação.

"Podemos fazer várias coisas com essas pessoas agora que elas estão digitalizadas. Temos que manter a economia se movimentando e o emprego delas. Estamos falando agora sobre programas de microcrédito para essas pessoas", contou, ressaltando que "temos que proteger a população mais pobre, mas temos que entender que temos limitações fiscais".