Fundamentais para a retomada do crescimento, os investimentos produtivos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), recuaram 15,4% no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses de 2020. No entanto, a confiança dos empresários começa a se recompor, sobretudo, na construção civil, o que permite estimar um salto no indicador no terceiro trimestre. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda da FBCF foi de 15,2%. A taxa em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 15,3% para 15%. Na avaliação dos especialistas, a retração é explicada por resultados negativos tanto na produção interna de bens de capital quanto na construção civil, no início da pandemia.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic), José Carlos Martins, disse que o dado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sofreu impacto da parte informal do setor. “No período, o setor formal perdeu 80 mil empregos, mas o informal teve perda de 1 milhão no início da pandemia. Agora, as lojas de material de construção estão vendendo bem, o que significa uma retomada do informal. E, no balanço do ano, estamos com 8,9 mil empregos positivos na construção civil”, disse.
Segundo Martins, o mercado imobiliário está puxando muito bem desde julho. “As vendas caíram 2,2% no primeiro semestre porque os estandes ficaram fechados em abril e em maio. E os empresários ficaram com medo de fazer os lançamentos. No entanto, estamos batendo recordes de vendas desde julho em São Paulo”, ressaltou o presidente da Cbic. Juros baixos, rendimentos pífios em aplicações financeiras e as condições de moradia em período de confinamento explicam o movimento, que deve puxar os investimentos daqui para frente, segundo o especialista.
Longo prazo
Na opinião do economista chefe do Banco Haitong, Flávio Serrano, que estimava um tombo de 16% na FBCF, o recuo não surpreende. “A produção que exige investimento despencou. A construção civil colapsou, mas agora está voltando”, avaliou. Segundo ele, investimentos são decisões de longo prazo, e a pandemia criou um cenário de muita incerteza. “Abril foi o fundo do poço. Em maio e em junho, o ambiente melhorou um pouco e vamos ver um salto no indicador do terceiro trimestre”, disse.
Serrano explicou que, apesar de a retomada da pandemia ter começado, para o país impulsionar a taxa de investimento, hoje em 15% do PIB, serão necessários quatro ou cinco anos de crescimento robusto da economia. “Isso para chegar a uma taxa de 18%, 19% do PIB”, estimou.
O ideal, para garantir expansão sustentável da atividade econômica, são taxas de investimento acima de 20% do PIB, explicou Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “Serão necessárias reformas para chegar aos 20% nos próximos anos. A gente está muito longe disso.”