O anúncio de privatização da Companhia Energética de Brasília (CEB), em comunicado no sábado, dia sem movimentação no mercado financeiro, provocou alta nas ações da empresa na abertura do pregão desta segunda-feira (28/9). As ações da CEB, que fecharam em R$ 64, após atingirem um pico de R$ 69, na sexta-feira passada, subiram 23,5% hoje, cotadas em R$ 85. No meio do dia, no entanto, chegaram a atingir alta de mais de 30%, precificadas em R$ 94 na máxima.
A companhia brasiliense precisa de investimentos de R$ 200 milhões por ano, mas o movimento do mercado mostrou que a empresa, cujo preço mínimo é estimado em R$ 1,42 bilhão, desperta interesse dos investidores. No sábado, o Correio apurou que, ao menos, seis empresas devem disputar o controle da companhia: CPFL, Neoenergia, Equatorial, Energisa, Enel e EDP. O alto nível de renda da população atendida na capital federal é um diferencial da CEB. Para o assessor da Valor Investimentos Davi Lelis, no entanto, é possível que as ações subam mais no curto prazo. “O mercado tem uma máxima: compra no boato e vende no fato”, disse.
Para o economista-chefe da GWX Investimento Ciro Almeida, a privatização aqueceu o mercado de ações ao criar expectativa. “A venda traz uma valoração do preço da ação. A discussão e a expectativa fazem com que os papéis da CEB comecem a caminhar de maneira positiva", explicou. Segundo ele, quem investir antes da desestatização tem espaço maior para valorização. “Quando a privatização de fato acontecer, podemos ter um movimento de quem comprou mais cedo valorizar o investimento. Por isso, acho que o momento é agora”, ressaltou.
Audiência pública
A CEB marcou a data para a audiência pública de debate do processo de desestatização. A informação foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal desta segunda-feira e será realizada em 14 de outubro, de forma virtual, a partir das 11h. O objetivo será prestar informações ao público, bem como receber sugestões e contribuições ao processo de privatização. O modelo será a alienação de participação societária, a exemplo do que o governo federal quer fazer com a Eletrobras.
O presidente da CEB, Edison Garcia, não quis comentar sobre os preços das ações da companhia, mas afirmou que a privatização pode reparar problemas estruturais e financeiros enfrentados pela companhia. “Precisamos prestar um serviço melhor aos brasilienses. E isso só acontece com investimentos, troca de equipamentos e preparação da companhia para rápidas demandas quando elas ocorrerem”, explicou. “O que temos visto na CEB é uma fadiga de material, incapacidade financeira de fazer novos investimentos, o que leva a um serviço cada vez pior”, revelou.
Garcia também afirmou que, quanto mais investimentos, maior a possibilidade de aumento da tarifa. “O movimento para evitar isso precisa ser a redução da inadimplência. E trazer para a legalidade as dezenas de milhares de unidades residenciais que não pagam a conta, as famosas ‘gambiarras’”, assinalou. Segundo Garcia, são cerca de R$ 90 milhões a R$ 100 milhões perdidos por ano com as ligações irregulares.
Para o sócio-diretor da Focus Energia Henrique Casotti, mesmo com a possibilidade de aumento da tarifa a curto prazo, a movimentação ainda é positiva, porque haverá melhora tanto na qualidade, quanto no fornecimento e no atendimento aos consumidores. Além disso, na comparação entre empresas estatais e privadas, o melhor desempenho na entrega do serviço é da iniciativa privada, acrescentou. “As companhias do setor privado têm processos bem desenhados e bem mais eficientes. Com a privatização, se ganha na qualidade e na eficiência do investimento", completou.
Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Elétrica (Abadee), Marcos Madureira, o resultado das privatizações no setor de distribuição é positivo. Os estados que entendem que a iniciativa privada tem melhores condições de gestão e de aporte de capital têm tido resultado positivo nos setores de distribuição de energia elétrica. "Isso não significa que as estatais sejam ineficientes, mas há maior facilidade na gestão da empresa com processos facilitados, e que não podem ser feitos nas estatais”, avaliou Madureira.
Sem competição
Para o professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB) Victor Gomes, ainda é cedo para especular o valor de mercado da CEB. “Acho que se fala muito nesse componente, mas ainda é especulação”, afirmou. Mesmo sem esse critério, Gomes avaliou o investimento como positivo, pois além de não existir competição no mercado, o consumo de energia se enquadra em um setor de demanda inelástica. “O segmento é bom, pois não tem concorrente e nem competição, além disso o consumo de energia elétrica é indispensável”, argumentou.
O professor também avaliou que a expectativa para ganho com esses investimentos precisa ser pensada entre médio e longo prazos. “A perspectiva de lucro de serviços como energia é longa, mesmo que o ganho seja baixo, o papel sobe”, explicou. Sobre o aumento das ações depois do anúncio da privatização da companhia, Gomes explicou que a especulação faz o preço das ações subir de forma artificial. “Depois o investidor vende tudo por não ter rendido da forma como esperava”, completou.
* Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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