Enquanto a pandemia de covid-19 e as queimadas na Amazônia e no Pantanal deixam um rastro de destruição sem precedentes na economia e na imagem do Brasil, investidores estrangeiros batem em retirada do território brasileiro sem pestanejar. Em agosto, os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,4 bilhão, valor 85,3% inferior aos US$ 9,5 bilhões computados no mesmo mês de 2019, conforme relatório do Banco Central (BC) divulgado nesta quarta-feira (23/09).
O número é resultado de ingressos líquidos de US$ 1,6 bilhão em participações em capital e saídas líquidas de US$ 130 milhões em operações intercompanhias, segundo o BC. No período de 12 meses encerrado em agosto de 2020, o volume de IDP somou US$ 54,5 bilhões, correspondendo a 3,51% do Produto Interno Bruto (PIB). O montante é 13% menor do que os US$ 62,6 bilhões (3,94% do PIB) registrados no mês anterior — e é o pior desde agosto de 2010, quando a soma foi de US$ 50,8 bilhões, de acordo com dados do BC.
A queda dos investimentos estrangeiros no país é generalizada e expressiva em todas as bases de comparação. Em relação aos US$ 73,5 bilhões computados em 12 meses até dezembro de 2019, o volume de IDP encolheu US$ 19,1 bilhões, ou seja, 26%. E, no acumulado de janeiro a agosto, o saldo dos investimentos diretos no país ficou em US$ 26,9 bilhões, 41,5% a menos do que os US$ 46 bilhões contabilizados no mesmo período de 2019.
Transações correntes têm superavit
Os dados fazem parte da nota das estatísticas do setor externo do BC. A autoridade monetária registrou que as transações correntes foram superavitárias pelo quinto mês consecutivo em agosto, US$ 3,7 bilhões, ante deficit de US$ 3 bilhões no mesmo intervalo de 2019. Essa reversão, segundo o BC, "seguiu tendência observada no mês anterior e decorreu da alta de US$ 2,4 bilhões no superavit da balança comercial de bens e das reduções de US$ 3,5 bilhões e de US$ 882 milhões nos deficits em renda primária e serviços, respectivamente”.
Nos 12 meses encerrados em agosto, o saldo das transações correntes do país com o resto do mundo ficou negativo em US$ 25,4 bilhões (1,64% do PIB), ante deficit de US$ 32,2 bilhões (2,03% do PIB) no período equivalente concluído em julho.
O BC estima que, em setembro, a conta de transações correntes vá registrar superavit de US$ 3,7 bilhões, enquanto a de IDP terá ingressos líquidos de US$ 2 bilhões.
Despesa com viagens em queda
O deficit na conta de serviços foi de US$ 1,3 bilhão no mês passado, dado 39,6% inferior ao resultado de agosto de 2019, de US$ 2,2 bilhões. A conta de viagens internacionais continua a refletir os impactos da pandemia no setor, de acordo com o BC.
A queda interanual foi de 85,4% nas despesas líquidas com viagens, para US$ 123 milhões em agosto de 2020, em comparação aos US$ 842 milhões no mesmo mês do ano anterior. O órgão registrou redução de 80,5% nas despesas líquidas de transportes, de US$ 477 milhões para US$ 93 milhões.
Reservas sobem
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 356,1 bilhões em agosto, aumento de US$ 1,4 bilhão em comparação ao mês anterior. A receita de juros contribuiu com US$ 416 milhões para o aumento do estoque de reservas internacionais. As variações por paridades e por preço elevaram o estoque, respectivamente, em US$ 516 milhões e US$ 146 milhões.
Além disso, o resultado líquido positivo de US$ 210 milhões nos diferentes instrumentos de intervenção no mercado de câmbio — US$ 2 bilhões de retornos líquidos em linhas com recompra e US$ 1,8 bilhão de vendas à vista — elevou o estoque de reservas internacionais, segundo o BC.
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