Conjuntura

Desemprego sobe e atinge 13,7 milhões

Taxa de desocupação de 14,3% é recorde. Segundo o IBGE, com o fim do isolamento social, 1,1 milhão de pessoas saíram de casa para procurar trabalho, mas as empresas, afetadas pela crise, não têm vagas para todos. Analistas dizem que situação pode piorar

ROSANA HESSEL Jailson R. Sena*
postado em 19/09/2020 01:08 / atualizado em 19/09/2020 02:10

A pandemia de covid-19 já ceifou mais de 135 mil vidas de brasileiros e não está controlada, apesar de a flexibilização do isolamento social estar de vento em popa pelo país. Tanto que 1,1 milhão de pessoas saíram de suas casas para procurar emprego na quarta semana de agosto, totalizando 13,7 milhões de desempregados, número recorde, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O dado faz parte da pesquisa semanal Pnad Covid, que revelou aumento na taxa de desocupação na quarta semana de agosto. O indicador foi a 14,3%, com alta de 1,1 ponto percentual em relação à semana anterior, alcançando o maior patamar da série.

O aumento do desemprego foi resultado da diminuição do distanciamento social, de acordo com a coordenadora da pesquisa, Maria Lucia Vieira. “O mercado de trabalho estava em ritmo de espera para ver como as coisas iam se desenrolar. As empresas estavam fechadas e não havia onde essas pessoas pudessem trabalhar. À medida que o distanciamento social vai sendo afrouxado, elas vão retornando ao mercado de trabalho em busca de emprego”, comentou ela, em nota divulgada pelo IBGE.

A tendência para os próximos meses é que essa a continue aumentando, de acordo com analistas ouvidos pelo Correio. Eles chamam a atenção para o fato de que a desocupação está crescendo mesmo com a reabertura das atividades e dados de retomada da economia. “Isso mostra que, apesar de os indicadores apontarem recuperação, o volume de vagas criadas no Brasil não está sendo suficiente para atender a demanda das pessoas que saíram de casa para procurar emprego”, avaliou o economista Carlos Alberto Ramos, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

Na avaliação de Ramos, a alta no desemprego também está relacionada com a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, que leva muitas pessoas a tentar compensar a perda da metade do benefício. “A alta da taxa de desocupação mostra que está difícil ver uma retomada do emprego até mesmo no mercado informal”, acrescentou.

Retomada difícil
Os dados da Pnad Covid, na avaliação de Ramos, são preocupantes, porque confirmam o fato a atividade econômica não deve se recuperar tão facilmente, muito menos, a retomada será em V, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem prometido. “Não há como ocorrer uma recuperação em V se o desemprego aumenta quando a economia começa a dar sinais de aumento da atividade e, principalmente, porque a pandemia não está controlada. Com as pessoas voltando para as ruas, os números de contágios vão aumentar”, avaliou. Segundo ele, se houver uma segunda onda de infecções, o comércio poderá ter que voltar a fechar as portas em algum momento.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, reforçou que os dados do IBGE mostram um quadro ruim, que ainda vai piorar. “Até o fim do ano, a taxa de desocupação deverá passar de 17%. As pessoas estão começando a procurar emprego novamente e é natural, com isso, que a taxa suba. Como o crescimento será lento, o desemprego deverá permanecer em patamares elevados por um bom tempo”, frisou.

Mesmo com o mercado difícil, Kátia Bezerra, 39 anos, não perde as esperanças de encontrar trabalho. Moradora de Planaltina, ela parou de procurar emprego no meio da pandemia, mas acredita que, com o comércio reaberto, as tradicionais vagas temporárias que costumam aparecer entre outubro e dezembro devem voltar. “Acredito que consigo uma vaga, mesmo que temporária. Vai ser uma ajuda e, quem sabe, me contratam”, disse.

A estudante Bianca Santos, 22 anos, procura emprego desde o ano passado. Contudo, com a pandemia e com uma filha pequena, a moradora de Vicente Pires precisou ficar em casa e continuar a procura via internet. “Antes da pandemia, era chamada para entrevistas além de distribuir currículos por onde passava. Quando o comércio fechou, tive que mudar o foco e acompanhar sites de emprego”, relata Bianca. Para ela, qualquer emprego onde possa se encaixar será bem-vindo. “Como ainda estou na faculdade e tenho filha pequena, preciso pagar as contas, pois o auxílio emergencial ajuda um pouco, mas não o suficiente”, completa.

*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo

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Dólar dá um salto: 2,79%

Temores sobre a situação fiscal no país, aliados à antecipação inesperada de um leilão de rolagem de linhas de crédito pelo Banco Central fizeram o dólar disparar ontem no mercado. A moeda norte-americana deu um salto de 2,79% e fechou cotada em R$ 5,377, a maior alta diária desde 24 de junho. O nervosismo do mercado refletiu-se, também, nos negócios da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que terminou o dia em baixa de 1,81%, aos 98.290 pontos.

O real foi moeda com pior desempenho ante o dólar, considerando uma cesta de 34 divisas mais líquidas. A alta de 2,79% verificada no Brasil foi sensivelmente maior do que no México (1,1%), na África do Sul (0,81%) e no Chile (0,88%).

O temor com o desequilíbrio das contas públicas também provocou aumento das taxas de juros no mercado brasileiro. As taxas longas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) subiram mais de 30 pontos, o que ajudou a estressar ainda mais o dólar, ressalta o diretor de tesouraria de um banco. “A inclinação da curva é um sinal do crescente risco fiscal do Brasil, aliado ao exterior ruim, ajudou a fortalecer o movimento de busca por proteção no dólar.”

O contrato de DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 2,97% ao ano, ante 2,823% no ajuste anterior, e o DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 4,38%, comprada à de 4,144% da véspera. O DI para janeiro de 2025 subiu de 6,024% para 6,30%, e o DI para janeiro de 2027 foi de 7,013% para 7,28%.

A alta dos juros prejudica o governo, que precisa rolar diariamente a gigantesca dívida pública. Na avaliação da economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro, a instituição não conseguirá manter por muito tempo o atual ritmo de emissão de papéis prefixados. “Estamos ganhando tempo. Dado o padrão de vencimentos da dívida, temos, anda, financiamento barato por uns dois anos. Dá para levar mais um pouco e torcer para não termos choques externos”, afirmou.

Estresse
No exterior, o ambiente de negócios também foi desvaforável. Novos indícios de piora da relação entre Estados Unidos e China, aumento de casos de coronavírus na Europa e, ainda, preocupações com a retomada da atividade econômica americana ajudaram a pressionar as Bolsas e as moedas de países emergentes.

Profissionais das mesas de câmbio mencionam ainda que a decisão do BC de fazer nesta sexta um leilão de rolagem de linha que vencem em outubro, de US$ 4,15 bilhões, não caiu bem em um dia de mercado estressado. Normalmente estes leilões de rolagem de linha são feitos na semana final de cada mês.

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