Apesar do aumento do desemprego, o ministro da Economia, Paulo Guedes, insiste em dizer que a economia brasileira está se recuperando de forma acelerada da pandemia da covid-19. Especialistas, contudo, avaliam que o governo deveria estar preocupado em criar medidas que estimulem a geração de empregos. Parlamentares, por sua vez, afirmam que o aumento do desemprego só reforça a pressão pela derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro à desoneração da folha.
Guedes manifestou confiança na retomada econômica em reunião com o setor produtivo nesta sexta-feira (18/09). O bom humor do ministro até surpreendeu alguns interlocutores. Afinal, a equipe econômica está sob tensão desde que o presidente Jair Bolsonaro ameaçou com um cartão vermelho quem lhe apresentasse a proposta de congelar de aposentadorias e pensões, ventilada pelo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues. Além disso, ainda nesta sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o desemprego disparou para 14,3% no fim de agosto, devido à crise da covid-19.
"O ministro estava animado porque a economia está voltando para os trilhos", revelou um empresário, que disse ter mantido um "bate-papo extremamente descontraído" com Guedes nesta sexta-feira. Ele ainda contou que o ministro está certo de que a reforma tributária vai avançar. É na reforma, por sinal, que a equipe econômica tem depositado as fichas em relação à geração de empregos no pós-pandemia. Guedes promete desonerar a folha de pagamentos a fim de reduzir o custo do emprego formal e estimular a criação de novos empregos.
Especialistas, contudo, afirmam ao Correio que a medida não é suficiente, porque vai demorar a fazer efeito e porque o desemprego ainda pode crescer nos próximos meses, devido à crise da covid-19."A desoneração é importante, mas não suficiente, porque o impacto da pandemia no mercado de trabalho foi muito grande, e a desoneração não tem um efeito imediato. É preciso repensar as relações de trabalho, a questão assistencialista", avaliou a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Passianotto.
Por essa razão, parlamentares dizem que o dado apresentado nesta sexta-feira pelo IBGE só reforça a pressão para a derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro à desoneração da folha. O veto reonera, a partir de 2021, os 17 setores econômicos que mais empregam no país, como os de call center, construção civil e transporte. Por isso, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), pode extinguir 97 mil postos de trabalho até 2025.
"O Congresso Nacional deve garantir a desoneração na folha como mecanismo para preservar empregos, num momento em que a tendência é de explosão do desemprego", avaliou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). "Com os novos números do desemprego, é ainda mais urgente a votação e derrubada do veto que trata da desoneração da folha", reforçou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).
Para Ramos, reonerar nesse momento de instabilidade econômica é preocupante, porque vai aumentar o custo do trabalho formal. E os adiamentos sucessivos dessa votação, que vêm sendo postergada a pedido do governo, também preocupa, porque deixa o empresariado sem previsibilidade. "Desestimula contratações e estimula a demissão", lamentou.
O governo, por sua vez, argumenta que a derrubada do veto pode pressionar em R$ 10 bilhões o Orçamento de 2021. Porém, sabe que a pressão pela derrubada do veto é grande. Por isso, tem tentado adiar a votação e negociar a derrubada do veto pelo apoio a outras propostas, como a volta da CPMF, que, segundo Guedes, pode bancar a desoneração total da folha na reforma tributária. Apesar do impasse, o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), marcou para o próximo dia 30 essa votação.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.