novo patamar

"Dólar acima de R$ 5 é novo normal", diz economista-chefe do Itaú Unibanco

Mario Mesquita reconhece que novo patamar do câmbio veio para ficar e reflete as incertezas no quadro fiscal, e, portanto, deve pressionar preços daqui para frente

Rosana Hessel
postado em 09/09/2020 14:06 / atualizado em 09/09/2020 14:07
 (crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)
(crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

O novo patamar do dólar acima de R$ 5 e ele deverá permanecer por algum tempo em meio às incertezas em relação à retomada da crise provocada pela pandemia de covid-19 e do reequilíbrio fiscal. Com isso, os repasses da valorização cambial devem ocorrer daqui para frente, ajudando a pressionar a inflação.

“Um tema que preocupa sobre o repasse cambial é se o novo patamar do câmbio é visto como transitório ou não. Se é transitório, o repasse é menor. Mas o que se tem visto como consenso é que o novo patamar do dólar é o atual. O real não vai voltar para níveis anteriores por muito tempo. E R$ 5 é o novo normal para o real e isso aumentam as chances de haver repasses”, afirmou Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, nesta quarta-feira (9/9), durante apresentação a jornalistas.

Na avaliação dos economistas do Itaú, o calcanhar de Aquiles que pode pressionar o câmbio é a questão fiscal, pois o país gastou muito mais do que os demais emergentes no combate à pandemia de covid-19, aumentando o endividamento que já era elevado. E, por conta disso, o real está desvalorizado, apesar de haver espaço para uma apreciação. “Os riscos de deterioração fiscal pressionam mais a moeda”, explicou Mesquita. Ele reconheceu que o aumento dos gastos públicos durante a pandemia foram necessários, mas é preciso recuperar o equilíbrio a partir do ano que vem. “O cenário inflacionário, com risco fiscal, está mais complicado do que alguns meses atrás”, afirmou.

As estimativas do Itaú para dólar neste ano estão em R$ 5,25 e o banco prevê a dívida pública bruta chegando a 93% do Produto Interno Bruto (PIB), seguindo nesse patamar até 2025, mesmo com com o teto de gastos em vigor e os gatilhos de contenção de despesa previstos na regra sendo acionados. O estouro do teto, inclusive, é previsto com a criação do Renda Brasil, programa que deverá substituir o Bolsa Família e que, pelos cálculos de Mesquita deverá custar R$ 90 bilhões a R$ 100 bilhões por ano a partir de 2021.

Apesar de a média de inflação aparecer comportada e dentro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4% neste ano, com piso de 2,5% anuais, Mario Mesquita reconheceu os dados dados da média, que inclui todas as categorias de preços, divergem da percepção da sociedade sobre a alta dos preços. “O núcleo da inflação segue baixo, mas a percepção que as pessoas têm sobre inflação é muito sensível aos itens de compra frequentes, basicamente, alimentos, energia e combustível. Se esses elementos sobem, eles têm um impacto maior do que o preço de duráveis, que são comprados com menos frequência”, explicou.

Mesquita ainda admitiu os dados mais recentes mostrando alta nos preços ao produtor e no atacado devem ter reflexo para o consumidor, inevitavelmente. A previsão do Itaú para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2020 está em 2% e os técnicos do banco reconhecem que a maior parte dessa alta deverá ocorrer no segundo semestre do ano, pois no primeiro, a variação do indicador foi de apenas 0,1%. Alimentos, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) avançaram 0,78% enquanto o IPCA de agosto subiu 0,24%. No acumulado do ano, a alta do custo de vida somou 0,70%.

Pelas projeções do Itaú, o rombo das contas públicas deverá encostar em 12% do PIB em 2020, incluindo a prorrogação do auxílio emergencial até o fim do ano. O deficit primário previsto em 2021 é de 2,5% do PIB, o mesmo de 2016.

Projeções

O Itaú está com perspectivas para a economias mais otimistas do que o mercado e até do que ao governo e manteve as projeções de queda de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano após o resultado do segundo trimestre. De acordo com Mesquita, essa manutenção ocorreu porque o resultado ficou abaixo das expectativas do banco. “Estávamos esperando que o PIB fosse cair 10% a 11%, mas veio 9,7%, levando em conta a queda de 4,5%. E o número sugere uma recuperação mais forte no terceiro trimestre e, por isso, estamos confortáveis em manter as estimativas”, afirmou. “A gente faz a melhor projeção possível com base nos dados e, às vezes, bate com o consenso, e, às vezes, não. No ano que vem, nossa estimativa está em linha com o consenso”, afirmou ele citando a previsão de crescimento de 3,5% no PIB de 2021.

Conforme os dados apresentados por Mesquita e sua equipe, o auxílio emergencial de R$ 600 foi muito importante para evitar uma queda maior do PIB este ano mas ele sozinho não tem ajudado na processo de retomada da atividade da economia. Um dado importante destacado pelos técnicos mostra que a redução da mortalidade está diretamente relacionada com a recuperação nos municípios. Logo, os municípios que receberam mais auxílio emergencial e não reduziram a mortalidade com a pandemia, não apresentaram recuperação no mesmo patamar dos que tiveram mais auxílio e também reduziram a mortalidade. “O auxílio emergencial foi importante a recuperação do consumo também coincide com queda dos óbitos relativos”, destacou Mesquita.

O banco ainda prevê que o desemprego vai crescer e ficar em patamares elevados com a taxa chegando a 16,6%, neste ano, e passando para 16,2%, em 2021, algo que não deve ser nada positivo para retomada do consumo das famílias, um dos motores do crescimento. Técnicos do Itaú apostam em uma redução da poupança no ano que vem após o crescimento dela neste ano para 19% do PIB e, assim, esse item um importante componente para um aumento dos gastos das famílias em 2021.

As estimativas do Itaú preveem queda de 3,7% no PIB global e uma retomada bem mais forte do que a do Brasil em 2021, de 6%, puxada, em grande parte, pelo PIB da China, que deverá registrar expansão de 7,5%, no ano que vem, após crescer 2,3%, neste ano.

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