A taxa básica de juros (Selic) pode ter um novo corte, caso o teto de gastos seja respeitado pelo governo. Foi o que disse o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, nesta sexta-feira (4/9) em uma live promovida pelo jornal Valor Econômico. Para ele, a política fiscal do país é o fator mais importante para investidores do mercado financeiro e nas decisões de política monetária.
"A política fiscal é o fator número um não só do Banco Central, mas dos investidores tanto domésticos quanto estrangeiros. Quando eles pensam no Brasil, estão pensando na retomada da economia, na política monetária, nos riscos. Mas as dúvidas sobre o fiscal são tão grandes que dominam tudo. Então todas as decisões de investimentos estão sendo brutalmente influenciadas pelo destino da área fiscal do país", afirmou.
Ele explicou que os juros podem subir caso a política fiscal esteja comprometida por causa do contrato de forward guidance, do Banco Central. "Desde a última reunião do Copom, caminhamos para algo que chamamos de forward guidance, que é esse contrato em que o BC garante que não subirá os juros a menos que a inflação se aproxime da meta. [...] Se eu não tiver o fiscal em ordem, não quero ter o compromisso com manter o estímulo monetário. Sei que sem o fiscal em ordem, minha confiança nas projeções de inflação no meu próprio modelo cai muito. Em alguma hora, vai dar inflação. Não tem saída".
Há, segundo ele, uma cláusula no forward guidance que garante que, caso haja riscos na política fiscal, os juros podem subir. "Se houver uma ruptura no regime fiscal, o Teto de gastos, a gente cancela essa promessa. O comitê avalia que não vale a pena correr riscos a menos que tenhamos uma âncora fiscal muito forte", disse ele. Um eventual desrespeito ao teto significaria uma inflação mais alta em 2021, disse Kanczuk. Por outro lado, o cumprimeiro da regra significaria uma inflação menor.
"Teto tem que cumprir. Isso é importante para o país, para o Banco Central e para todo mundo. Cumprir isso significa menos inflação no ano e demanda no ano que vem. Então tenho que fazer a política monetária pensando nisso. Nesse raciocínio se encontra o forward guidance, de falar: 'tenho que prover estímulo monetário' já que o fiscal talvez seja contracionista ano que vem em redução de demanda",disse ele.
Atualmente, a taxa básica de juros é de 2%, após a última reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom). Para Riezo Silva Almeida, coordenador do curso de Ciências Econômicas do IESB, o rompimento influenciaria diretamente a inflação. “Gera inflação. Com isso, o Banco Central pode aumentar os juros para frear o consumo da população, que terá mais dinheiro para poupar e, assim, conseguir um maior rendimento com o dinheiro guardado" explica.
Além disso, caso o Executivo Federal desrespeite a regra, os governadores também poderão ultrapassar os limites. "Isso pode se tornar uma bola de neve, principalmente alguns que já possuem problemas com a lei de responsabilidade fiscal" Outra consequência é sobre o risco país, onde " no caso do Brasil está alto e o exterior enxerga o país com maior cautela para se investir" complementa Riezo.
*Estagiário sob a supervisão de Vicente Nunes
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