Em trajetória de queda desde 2009, a participação do Brasil na produção industrial mundial caiu de 1,24%, em 2018, para 1,19%, em 2019. É o piso da série histórica iniciada em 1990. Assim, a indústria do país, que, até 2014, estava entre os 10 maiores, perdeu relevância no cenário global e passou a ocupar a 16ª posição. Entre 2015 e 2019, a produção brasileira foi superada pelas do México, da Indonésia, da Rússia, de Taiwan, da Turquia e da Espanha. Os dados são do Desempenho da Indústria no Mundo, estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo o gerente executivo de Economia da CNI, Renato da Fonseca, desde 2010, o desempenho da indústria brasileira tem sido de quedas e recuperações, sem nunca mais voltar ao patamar de uma década atrás. “Claramente, perde força aqui dentro e perde lá fora também”, avaliou. O especialista explicou que, apesar de o país ter indústrias de ponta, com unidades no resto do mundo, a grande maioria, de pequenas e médias, têm gestão ruim. “Além da gestão e baixa produtividade, faltam investimentos em inovação e capacitação da mão de obra”, justificou.
Do lado de fora da fábrica, o governo também não ajuda, sem política industrial e com um ambiente ruim de negócios. “O país tem educação de má qualidade, o que explica tanto a baixa capacitação do trabalhador quanto os problemas de gestão. O Brasil não fez o dever de casa. Se o governo não fizer o dele, o empresário não se sente estimulado”, explicou.
O desempenho das exportações da indústria de transformação brasileira também retrata a perda de competitividade. De acordo com estimativa da CNI, a participação nacional nas exportações, que já havia recuado de 0,91% para 0,88%, de 2017 para 2018, mantém o viés negativo e deve ficar em 0,82%, em 2019, igualando o menor patamar da série histórica, registrado em 1999. O Brasil ocupava a 30ª colocação no ranking global no último dado disponível, de 2018.
“O cenário torna ainda mais urgente a aprovação de reformas e legislações que destravem a economia brasileira e aumentem a competitividade da indústria nacional. São os casos da reforma tributária, da nova lei do gás e do reforço em investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Essas são iniciativas essenciais para restabelecer condições para a indústria brasileira voltar a competir internacionalmente”, comentou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
A perda de participação da indústria brasileira na produção industrial mundial tem sido observada desde meados da década de 1990. Os dados evidenciam que a crise econômica brasileira de 2014-2016 intensificou esse movimento. Nesse período, o PIB da indústria acumulou queda de 10,1%, enquanto a agropecuária recuou 2,1% e os serviços recuaram 4,9%. Diferentemente do Brasil, a produção industrial mundial manteve-se em crescimento, após queda em 2009, ano da crise financeira global.
Cenários
A perda de participação da indústria de transformação nacional no cenário global é percebida mesmo num cenário de depreciação do real, que estimularia as exportações. Entre 2017 e 2019, a moeda brasileira depreciou-se 12%, em termos reais, frente ao dólar. Entre os dificultadores, está a volatilidade, ligada a incertezas tanto no ambiente externo como no doméstico, o que prejudica contratos comerciais.
A crise na Argentina e o aumento das tensões entre Estados Unidos e China contribuíram para o recuo das exportações. Em 2019, a Argentina entrou no segundo ano de recessão, com um recuo de 4,6% no PIB na comparação com 2017. No mesmo período, as importações de bens da Argentina recuaram, em valor (US$), 26,6%.
Já a escalada da tensão entre Estados Unidos e China, observada desde 2018, tem desacelerado o crescimento econômico mundial. A taxa caiu de 3,9%, em 2017, para 3,6%, em 2018, e para 2,9%, em 2019. A Argentina e os Estados Unidos são os principais compradores de produtos manufaturados brasileiros. Em 2019, as exportações para os dois países representaram 28% do total exportado pela indústria de transformação no Brasil.
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