Em dia agitado no cenário político e econômico, o mercado reagiu negativamente ao ultimato dado pelo presidente Jair Bolsonaro ao ministro da Economia Paulo Guedes nesta quarta-feira (26/8) para a apresentação de um modelo do Renda Brasil, que poderá substituir o atual Bolsa Família. A ideia do governo é retirar a marca assistencialista dos antecessores petistas das políticas públicas. Insatisfeito com as soluções apresentadas pela equipe econômica, Bolsonaro disse que voltariam a conversar e que a proposta apresentada não seria levada ao Congresso. Ele fixou a próxima sexta-feira (28) como data-limite para o superministro apresentar um redesenho do projeto.
Diante das declarações, o índice Ibovespa – principal da bolsa de valores paulista –, que começou o dia no azul, despencou rapidamente e deu lugar a uma queda que chegou a 2% ao longo do dia. Falou-se, inclusive, que o ministro da Economia teria pedido demissão – algo que foi rapidamente negado pela pasta. O esclarecimento trouxe um pouco de respiro no câmbio e na bolsa, mas isso não amenizou as quedas. Na B3, o recuo foi de 1,46% no fim do pregão.
O dólar, por sua vez, disparou e encerrou vendido a R$ 5,61, com alta de 1,62%. A moeda americana – como normalmente ocorre em situações de tensão – foi vista como uma espécie de "refúgio", um local mais seguro para investimentos que antes estavam no cenário nacional. Quando o risco aumenta, investidores procuram alternativas.
Para Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, o ultimato a Guedes foi a principal preocupação no cenário doméstico e deu o tom no mercado. "Em linhas gerais, o mercado interpretou que Bolsonaro deu a Guedes um ultimato em um momento que a relação entre eles mostra certo desgaste. Logo cedo, persistiam as incertezas políticas, o risco fiscal. No início do dia, o Ibovespa até deu uma animada, foi para o azul. Mas os comentários do presidente causaram uma reação instantânea".
Apesar dos ruídos gerados, explica Pasianotto, o mercado já não vê mais a questão do teto de gastos com tanta apreensão. Isso porque, apesar dos ruídos gerados entre governo e equipe econômica, nem Bolsonaro nem Guedes querem gastar acima do limite. Porém, os desentendimentos levantam dúvidas sobre a permanência do ministro. "Uma possível queda de Paulo Guedes influenciaria negativamente o investidor estrangeiro. Por não conhecerem nosso cenário político, muitos investidores estrangeiros estranhariam. Eles não estão acostumados com esse entra e sai de ministros que é comum aqui no Brasil, vêem Guedes como uma espécie de primeiro ministro", disse.
A economista argumentou que já é possível ver isso pela forma como o dólar se comportou nesta quarta. "Câmbio foi pressionado. Isso significa uma sinalização da movimentação de capital estrangeiro. O investidor já está descontente com o mercado financeiro brasileiro. Essa situação pode funcionar como um empurrãozinho para que ele saia de daqui. Além das incertezas envolvendo governo, a curva de evolução do coronavírus no Brasil está diferente dos outros países emergentes, que estão lidando com a situação de forma melhor", explicou.
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*Estagiário sob a supervisão de Vicente Nunes