O volume de capital de brasileiros investido no exterior ultrapassou pela primeira vez na história a barreira de meio trilhão de dólares e somou US$ 529 bilhões, em 2019, conforme dados divulgados nesta terça-feira (25/8) pelo Banco Central. Os dados têm como base as declarações de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) e são atualizados anualmente. Esse volume é o maior desde 2007, início da compilação apresentada pelo BC, e representa alta de 7,3% sobre os US$ 493,2 bilhões computados em 2018.
De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, esses números de capital brasileiro no exterior incluem investimento direto, como operações intercompanhias e imóveis, além de investimentos em carteira, títulos de renda fixa e outras aplicações e ativos e moeda. A rubrica exclui as reservas internacionais do país computadas pela autoridade monetária.
“Os dados da pesquisa mostram que continua o movimento do aumento de investimento de pessoas físicas e jurídicas no exterior e o volume ultrapassou meio trilhão de dólares. É a primeira vez na pesquisa que essa marca é ultrapassada”, destacou Rocha. Segundo ele, o movimento é “constante, mas não é necessariamente linear”. “Se olhar a pesquisa como um todo, ela mostra uma tendência que me parece consistente com as empresas aumentando a participação no exterior e o fluxo de IED no exterior já superam a reservas internacionais”, complementou.
O técnico do BC destacou que o volume de investimento brasileiro direto cresceu 8,9% no mesmo período, passando de US$ 382,4 bilhões para US$ 416,5 bilhões, mostrando aumento expressivo de ativos de brasileiros no exterior.
Ao contrário de 2019, neste ano, o montante de capital brasileiro no exterior apresenta queda. Recuou 5,2% na comparação com o dado de dezembro de 2019, passando para US$ 394 bilhões, em julho. Esse montante está acima do volume de reservas computado pelo BC no mês passado de, US$ 354,7 bilhões.
Queda no IDP
Enquanto isso, o fluxo de entrada de investimento estrangeiro direto no país (IDP) recuou 49% no mês de julho na comparação com o mesmo período de 2019, passando de US$ 5,3 bilhões para US$ 2,7 bilhões. No acumulado em 12 meses até o mês passado, o IDP totalizou US$ 62,6 bilhões, correspondendo a 3,94% do Produto Interno Bruto (PIB).
Esse dado é levemente abaixo dos US$ 65,2 bilhões (4,01% do PIB) no mês anterior. Para agosto, Rocha prevê que o volume de IDP deverá ficar abaixo de US$ 60 bilhões. A previsão do BC para a entrada de IDP neste mês é de US$ 1 bilhão, o que, segundo o técnico, será preciso descontar o saldo positivo de US$ 9,5 bilhões, de agosto do ano passado. “Com isso, se as minhas contas estiverem corretas, vamos ter um volume acumulado de IDP de R$ 54,1 bilhões nos 12 meses encerrados em agosto”, adiantou. Rocha apresentou os dados durante a apresentação aos jornalistas dos dados da nota do setor externo do BC que mostra o resultado do balanço de pagamentos do país com o resto do mundo.
O técnico destacou que, nos últimos dois meses, estrangeiros começaram a voltar a investir em ações no país, registrando saldos positivos em portifólio em junho e julho. Contudo, o volume ainda é pequeno se compararmos com a saída de US$ 19,5 bilhões, entre março e abril, contra um ingresso de US$ 3,8 bilhões, desde junho e somando com a expectativa do BC de entrada em agosto. “A redução da incerteza em relação à pandemia pode gerar novas oportunidades. Mas ainda não posso dizer que é uma tendência, porque os fluxos ainda são muito voláteis”, disse Rocha.
Melhora no deficit
De acordo o técnico do BC, os efeitos da pandemia de covid-19 contribuiu para melhora no deficit no balanço de pagamentos em quase 1% do PIB entre maio e julho. O saldo negativo acumulado em 12 meses passou de 2,9% para 2% do PIB no acumulado em 12 meses, totalizando US$ 31,7 bilhões no período encerrado no mês passado. “Os efeitos econômicos da crise da pandemia tem reduzido o deficit em 1 ponto percentual comparado com maio”, afirmou. Em junho, o saldo acumulado ficou em 2,7% do PIB.
“A melhora no deficit em transações correntes está relacionado com os efeitos da pandemia e tem a ver, principalmente, com a queda nas importações, mas também está relacionada a redução de viagens internacionais e na redução das remessas de lucros das empresas instaladas no país para suas matrizes”, afirmou.
Dados revisados
A autoridade monetária revisou os dados estatísticos do setor externo de 2019, e, com isso, o efeito líquido da mudança elevou em US$ 1,5 bilhão o deficit em transações correntes, de US$ 49,5 bilhões (2,7% do PIB), para US$ 50,9 bilhões (2,8% do PIB).
Com a atualização da base de dados, o BC também apontou piora nos dados de IDP. O volume total de entrada no país foi reduzido em US$ 5,1 bilhões, passando de US$ 78,6 bilhões (4,3% do PIB) para US$ 73,5 bilhões (4,0% do PIB).