Embora o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha admitido remanejar recursos para a realização das obras públicas defendidas pela ala desenvolvimentista do governo, membros da equipe econômica afirmaram ontem que essas obras devem respeitar o teto de gastos e serão uma peça complementar à agenda de privatizações e concessões. Para a Economia, o investimento privado continua sendo prioridade e será o responsável pela retomada econômica do país.
Em evento realizado pelo Santander, o secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, reiterou que o governo vai tentar, junto ao Congresso, rever algumas despesas públicas com vistas a liberar espaço no Orçamento para a realização de investimentos públicos. Mas afirmou que isso será feito respeitando-se o teto de gastos, e que esses investimentos devem ser “necessários e prioritários à sociedade”, além de “complementares à nossa estratégia de parceria privada”.
Responsável pelas negociações com a iniciativa privada, a secretária especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier, reforçou que, para o governo, “está muito claro que a retomada do crescimento não virá pelo investimento público”, mas pelo privado. Seillier explicou que, “mesmo antes da crise do novo coronavírus, o orçamento total do governo para a infraestrutura não passava de R$ 20 bilhões para este ano”. Ou seja, era muito inferior à demanda de investimentos em áreas como as rodovias, aeroportos, portos, ferrovias e saneamento.
“O Brasil como um todo, para continuar crescendo, demanda investimentos de infraestrutura. E sabemos que eles não virão da parte pública do Orçamento”, declarou Seillier. Ela lembrou que o setor privado tem uma disponibilidade muito maior de recursos, além de melhores indicadores de eficiência. Só para o setor de saneamento, o governo espera R$ 600 bilhões de investimentos privados nos próximos anos, após a aprovação do novo marco legal do setor.
Pressão
Martha Seillier admitiu, contudo, que “é natural uma pressão por investimentos públicos, em função da falta de infraestrutura”. E também porque as parcerias com a iniciativa privada precisam seguir um rito legal que “não é rápido, nunca foi e nunca será”.
Vale lembrar que, na semana passada, e então secretário de especial de Desestatização, Salim Mattar, demitiu-se do cargo mostrando descontentamento com a dificuldade de fazer avançar processos de privatização. Martha Seillier alegou que, neste governo, o número de empresas que estão no PPI ou no Plano Nacional de Desestatização (PND) já subiu de uma para 17, em um universo de 46 estatais. “Mais de um terço das estatais do Brasil estão formalmente em processo ou estudo de desestatização. As pessoas estão olhando para o copo meio vazio, sendo que está bastante cheio”, argumentou.
“Fico” de Guedes anima mercados
Principal indicador na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa retomou a trajetória de alta e recuperou a marca simbólica dos 100 mil pontos. Embalado pelas declarações do presidente Jair Bolsonaro de que o ministro da Economia permanece no governo, o índice subiu 2,48% e fechou ontem aos 102.065 pontos. Com isso, a bolsa reduziu as perdas acumuladas no Mês para 0,82%. No ano, o Ibovespa ainda amarga desvalorização de 11,74%. No mercado de câmbio, o dólar encerrou o dia em baixa de 0,55%, cotado a R$ 5,467 para venda.
C.Decourt/Futura Press/Estadao Conteudo
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