Responsável por cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB), o setor de serviços é o mais importante da economia brasileira e o que mais sofreu com as medidas de isolamento social. Mas começa a dar sinal de reação. Após quatro meses de queda, o setor cresceu 5% em junho, indicando que a atividade econômica parou de cair devido à pandemia do novo coronavírus. A alta trouxe ares otimistas para as projeções do PIB em 2020, apesar de também reforçar o entendimento de que a retomada será lenta e desigual.
O resultado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reflete a flexibilização do isolamento social, que permitiu a reabertura de estabelecimentos como bares, restaurantes, academias e salões de beleza. E veio melhor do que as expectativas do mercado, que projetavam uma alta de 4,4%.
“A atividade econômica surpreendeu em junho. Tivemos dados acima do esperado no comércio (8%), na indústria (8,9%) e nos serviços (5%), mesmo que em menor intensidade nesse último setor”, comentou Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). “Não sabíamos até quando a economia cairia, mas, agora, passamos para um quadro de recuperação gradual, sabendo que o fundo do poço foi mesmo no segundo trimestre”, acrescentou.
O resultado também trouxe um viés altista para as projeções do PIB do Brasil. “No começo da pandemia, as fontes de incerteza eram muito elevadas. Por isso, vimos algumas projeções de queda de até 9%, como previu o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas o segundo trimestre se mostrou menos negativo do que o esperado”, explicou a economista da XP Lisandra Barbeiro. A XP, por exemplo, prevê uma contração de 4,8% no PIB em 2020. E a expectativa de é que o restante do mercado também ajuste as projeções para uma queda mais próxima de 5% nas próximas semanas.
“O dado de serviços confirma nossa projeção de que a economia vai cair menos do que 5% no ano”, retrucou o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida. O governo acredita que o PIB do Brasil vai sofrer um tombo de 4,7% em 2020.
Sachsida discorda dos analistas que temem que a retomada perca força após o fim de programas como o auxílio emergencial, que sustentou a recuperação de setores como o comércio. “Tem outras medidas chegando”, garantiu, citando como exemplo o saque emergencial do FGTS e os investimentos previstos pelo marco legal do saneamento.
Muitos especialistas, porém, sustentam que a retomada vai seguir de forma lenta e desigual, sobretudo após o fim do auxílio emergencial. Afinal, os próximos meses serão de aumento do desemprego e incertezas fiscais.
Além disso, nem todos os segmentos têm a mesma capacidade de retomada. Prova disso é que, apesar do crescimento de junho, os serviços ainda estão 15% abaixo do nível pré-pandemia, além de 12,1% menores do que no mesmo período do ano passado. Já a indústria acumula uma perda de 13,5%. O comércio já está 0,4% acima do nível observado antes da quarentena. “Teremos altas menos significativas nos próximos meses. E os serviços vão continuar com um nível de receitas muito aquém da pré-pandemia, sobretudo os serviços prestados às famílias”, alertou Bentes.
Diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk admitiu que a economia deve se recuperar de forma lenta e desigual nos próximos meses. “Algumas coisas que não dependem do isolamento social, como as compras pela internet, voltam. A pessoa conseguiu renda pelos programas do governo e retoma as compras. Setores do varejo e da indústria estão voltando firmes. Mas, os serviços, principalmente os serviços prestados às famílias, cabelereiro, limpeza, você tenta reduzir pelo afastamento social. Esses não retomam da mesma forma”, explicou Kanczuk.