O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk, admitiu nesta quinta-feira (13/8) que nem todos os programas de crédito anunciados durante a pandemia do novo coronavírus atingiram o resultado esperado pela autoridade monetária. Porém, disse que é normal que isso aconteça e não só no Brasil. E garantiu que, mesmo assim, o crédito cresceu na pandemia.
"A verdade é que um pedaço não aconteceu. Se estamos chateados com isso? Eu diria que não. A gente sabia desde o começo que era assim que as coisas iriam funcionar. O BC é provedor de liquidez. Não tem que ter medo de fazer coisas que têm uma intersecção. Diante da demanda da sociedade, prefere errar pelo exagero do que pela falta de programas", afirmou Kanczuk, em live da Associação de Bancos do Estado do Rio de Janeiro (Aberj).
Dados apresentados por Kanczuk no webinar da Aberj lembram que, desde o início da pandemia, o Banco Central anunciou medidas que prometiam liberar até 17% do PIB em liquidez e capital. Porém, nem todas essas medidas mostraram-se efetivas. A liberação de compulsórios, por exemplo, parece ter atingido seu potencial. Já os empréstimos com lastro em letras financeiras garantidas não chegaram à metade do possível. "Alguns programas foram um sucesso e outros não atingiram seu potencial, porque a sociedade encontrou outros caminhos de gerar crédito", alegou Kanczuk.
Ele ressaltou, porém, que o mesmo ocorreu com o Federal Reserve nos Estados Unidos e com o Banco Central Europeu. "Em outros países foi igualzinho", garantiu. Por isso, disse que "não é algo para ficar chateado ou ver como um fracasso". "Estava no desenho da política exagerar e não víamos um custo com isso. [...] Tem que entender que seu trabalho é tentar e que parte não vai acontecer", minimizou.
Crédito na pandemia
Ainda assim, o Banco Central garante que o crédito cresceu no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus, diferente do que ocorreu em outras crises. Ou seja, que boa parte dessas medidas foram efetivas.
Segundo o BC, as concessões subiram 15% na crise de covid-19, frente ao mesmo período do ano passado. O crescimento do crédito foi puxado pelo segmento de pessoa jurídica, que cresceu 22% entre 16 de março e 31 julho deste ano. Já o segmento pessoa física cresceu 9% nesse período.
"Em crises, normalmente o spread sobe e o volume cai. É a coisa mais típica do mundo. Mas essa crise foi diferente para as pessoas jurídicas. Em boa parte pela natureza da crise e em parte pelo efeito das políticas que aconteceram", avaliou Kanckuz.
Saiba Mais
Ele disse ainda que o problema de acesso ao crédito observado pelas pequenas e médias empresas no início da pandemia acabou sendo equacionado durante a quarentena. E afirmou que é normal que o crédito tenha crescido mais para as pessoas jurídicas do que para as pessoas físicas. Afinal, os bancos entenderam que as empresas perderam receita devido ao isolamento social e precisavam de crédito para sobreviver a esse momento e depois retomar suas atividades, voltando a gerar receita.
Porém, viram um risco maior de inadimplência nas famílias brasileiras, devido ao avanço do desemprego. Por isso, o que mais cresceu no segmento de pessoa física na pandemia foram as repactuações, sobretudo com a prorrogação do vencimento de parcelas, e não as novas concessões de crédito.