No primeiro dia no mercado financeiro após a "debandada" dos secretários Salim Mattar, responsável pelo setor de desestatizações, e Paulo Uebel, desburocratização, o clima foi diferente do que ocorreu no exterior. Lá fora, nos Estados Unidos, com a expectativa pelo pacote de incentivos monetários no valor de US$ 1 trilhão, as bolsas ficaram otimistas. Aqui, o índice Ibovespa chegou a registrar queda de mais de 1% ao longo desta quarta-feira (12/8). No encerramento do pregão, no entanto, a queda foi praticamente zerada, sendo de 0,06% aos 102.117 pontos.
Já no câmbio, o dólar subiu forte, mesmo com duas intervenções do Banco Central. A moeda americana encerrou vendida a R$ 5,45, com alta de 0,69%. Ao longo do dia, chegou a bater R$ 5,48. A alta também foi influenciada pelo risco visto por investidores no cenário brasileiro, em meio a incertezas sobre o respeito do governo ao teto de gastos e sua fidelidade ao programa de desestatizações.
Segundo Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos, o mercado foi pego de surpresa com a saída de Mattar e Uebel do Ministério da Economia. Esperava-se, na sua avaliação, que as ações mais valorizadas por causa das expectativas por privatizações seriam as que mais sofreriam com a notícia. A expectativa se confirmou.
"Foi o que aconteceu, como o caso da Eletrobras, que estava no radar para privatização. No fim da tarde, o índice deu uma recuperada, mas ainda fechou negativo. Hoje foi dia de vencimento de Índice Futuro, então dá uma chacoalhada. Tem também os balanços do segundo trimestre, então há alta volatilidade. Eu até achei que o mercado reagiria pior com essa saída (dos secretários)", avaliou.
A expectativa pela declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) marcada para às 18h, segundo Madruga, foi o que trouxe ânimo ao mercado quando o fim do pregão se aproximava. Na declaração, Bolsonaro garantiu que respeitará o teto de gastos e sinalizou que pretende manter Paulo Guedes no comando da pauta econômica – algo que foi colocado em dúvida durante o dia após as tensões no Ministério.
Bruno destacou que mesmo que o governo queira avançar nas reformas, é dependente do Congresso Nacional. Os deputados e senadores, por sua vez, não querem discutir reformas em meio à pandemia, disse. "Se o Legislativo não quiser reformas, não tem como prosseguir. Não é interesse dos deputados no momento debater o assunto por causa da pandemia. Não querem trazer esse assunto neste momento. Salim não aguentou e pediu pra sair".
Madruga ainda comentou que as tensões envolvendo Guedes tiram um pouco das expectativas para privatizações ainda em 2020. Mas, segundo ele, a população já entendeu a necessidade de avançar com a desestatização. "Isso está ganhando apoio popular. Para 2020, fica mais complicado. A não ser que venha uma carta na manga. Realmente pode acontecer isso, porque a saída do Mattar pode abrir espaço para um maior diálogo com o centrão, que ficou distanciado durante a pandemia. Estão tentando se reaproximar. Não adianta, para ter sucesso nisso, é preciso apoio do Congresso. E, para isso, o governo vai ter que ceder de algum lado", opinou.
Nesta quarta-feira, Bolsonaro trocou a sua liderança na câmara. O deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) foi substituído por Ricardo Barros (PP-PR), que é ex-ministro da Saúde do governo de Michel Temer. A manobra é vista como uma tentativa de garantir a governabilidade.
*Estagiário sob a supervisão de Vicente Nunes