Ibovespa fecha em forte queda de 1,23% em dia de realização de lucros

Expectativa por acordo para um pacote monetário de US$ 1 trilhão nos EUA continua. No Brasil, ata do Copom fala em possibilidade de novos cortes de juros

Em dia de notícias importantes sobre possíveis vacinas contra a covid-19, o mercado financeiro, que tem aguardado atento, teve dia de alta volatilidade. Na bolsa paulista, o índice Ibovespa fechou em forte alta de 1,23% aos 102.174 pontos, puxado principalmente por ações de commodities e em meio a preocupações sobre questões fiscais envolvendo o governo federal.

Para poder gastar acima do teto, governo e aliados no Congresso Nacional estudam estender o estado de calamidade pública por causa da pandemia de covid-19 até 2021. Isso, aos olhos do mercado, pode trazer problemas, pois ruídos sobre saúde fiscal do Estado influenciam diretamente na forma como investidores vêem riscos no Brasil, o que pode provocar reflexos no câmbio, com a retirada de recursos do país por investidores que procuram alternativas mais seguras. Nesta terça, o dólar encerrou a sessão com queda de 0,91%, vendido a R$ 5,41.

A queda na bolsa brasileira foi fruto de uma realização de lucros, que é quando ocorre a venda de papéis que se valorizaram para efetivar os ganhos. É o que explica Rafael Ribeiro, analista de ações da Clear Corretora. "Se observar, o que puxou bastante foram as commodities. Foi um setor que subiu bem nos últimos dias. A gente teve uma realização de lucro mais acentuada na última hora do pregão. O mercado está travado em 100-105 mil pontos. Enquanto não romper os 105 mil, vamos ficar parados. Tem a questão da volatilidade, mas vai ficar aí. Isso ocorre porque, desde maio, a gente subiu de 82 a 100 mil pontos sem um respiro. Tem fatores da realização, isso é muito natural", detalhou.

O anúncio da vacina russa Sputnik V, que, apesar de registrada, ainda está em testes, influenciou diretamente na queda do dólar, explicou Ribeiro. A moeda americana, lembrou, vinha de quatro altas consecutivas e as incertezas envolvendo vacinas influenciam diretamente no câmbio.

No cenário internacional, a exemplo do que houve na segunda (10/8), o dia foi de expectativas. Isso porque notícias de um possível acordo para um pacote monetário que pode chegar a US$ 1 trilhão passaram a ser o assunto do momento. O mercado acredita, com base em declarações de do secretário do tesouro americano Steve Mnuchin, que um acordo no Congresso da maior economia do planeta está próximo de ser fechado.

"Se houver novos pacotes, novos estímulos, o mercado vai continuar esse movimento de alta. Temos que lembrar também que falta poucos meses para as eleições nos EUA. O Trump não está indo muito bem, então tem a questão política envolvida também", pontuou Rafael.

Já no cenário nacional, o dia teve ainda divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) na semana passada. A reunião resultou em mais uma queda na taxa básica de juros (Selic) e deixou as portas abertas para um novo corte. Na avaliação de Rafael Ribeiro, o ideal seria manter a taxa por um longo período.

"Se você for apostar algo, seria a manutenção da Selic ou um corte. Acredito na manutenção, porque ela é muito mais efetiva do que um corte para depois fazer uma alteração e subir. Acho que tem mais chance de manter esses 2% de forma prolongada. Isso para a economia é o que importa, a estabilidade. Para mim, o ideal seria manter", opinou.

A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 21 e 22 de setembro.


*Estagiário sob supervisão de Fernando Jordão