O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que esperava um nível menor na taxa de juros dos bancos brasileiros diante do atual patamar da taxa básica de juros (Selic), que está na mínima histórica de 2% ao ano. Ainda assim, ele garantiu que houve uma redução dos juros e um crescimento do mercado de crédito durante a pandemia do novo coronavírus.
"A taxa Selic caiu mais que a taxa ao cliente final. Se tivéssemos essa conversa há um tempo, acharia que a taxa para o cliente estaria um pouco mais baixa", reconheceu Roberto Campos Neto, em live promovida pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) nesta terça-feira (11/08).
Campos Neto lembrou que a diferença entre a Selic e as taxas cobradas ao consumidor final indicam um aumento do spread bancário. Porém, assegurou que os juros têm caído no Brasil, se observados de uma "forma combinada". "Em alguns setores, a Selic caiu mais que a taxa ao consumidor. Então, vimos um aumento de spread. Mas as taxas, de uma forma combinada, têm caído", alegou.
Segundo a nota de crédito do BC, a taxa média de juros do mercado brasileiro era de 19,3% ao ano em junho, variando de 7% no mercado de recursos direcionados a 27,9% no mercado de recursos livres. A taxa média é bem superior à Selic, que estava em 3% no início de junho, caiu para 2,25% em meados daquele mês e foi reduzida novamente para 2% na semana passada. Porém, ainda de acordo com o BC era de 22,7% ao ano em março, no início da pandemia.
Apesar dessa taxa descolada da Selic e da queixa de muitas pequenas empresas de que foi difícil obter crédito na pandemia, o presidente do BC garantiu que houve um crescimento de 15% no mercado de crédito brasileiro durante a crise da covid-19.
O crescimento do crédito foi puxado pelo segmento de pessoa jurídica, que cresceu 22% entre 16 de março e 31 julho deste ano, segundo o BC. Já o segmento pessoa física cresceu 9% nesse período, já que foi impactado pela redução das compras no cartão de crédito durante a quarentena.
Com isso, o BC calcula que o sistema financeiro brasileiro liberou R$ 922,9 bilhões em novos empréstimos, renovou operações de crédito que somam mais R$ 328,6 bilhões e permitiu a prorrogação de R$ 104,3 bilhões em parcelas durante a pandemia do novo coronavírus.
"Conseguimos manter o crédito crescendo forte mesmo contra o ano de 2019, que foi um ano em que o crédito já tinha crescido forte", afirmou Campos Neto. Ele admitiu que, no início da pandemia, houve problemas no acesso ao crédito, mas afirmou que outros países também registraram esse problema e lembrou que hoje vários programas emergenciais de crédito estão rodando ao mesmo tempo no Brasil.
Campos Neto garantiu, então, que "nenhum país emergente cresceu tanto" o crédito quanto o Brasil. E disse que é isso que "vai nos diferenciar na retomada". "Alguns estudos mostram que o fator mais determinante da recuperação é o crescimento do mercado de crédito", alegou Campos Neto, que, por isso, espera que o Brasil se recupere da crise do novo coronavírus de forma mais acelerada que alguns pares emergentes.
Retomada
O presidente do BC ainda disse que, pelo que se tem observado mundo afora, a recuperação econômica da crise do pós-coronavírus também vai exigir um crescimento mais inclusivo e sustentável, com um foco maior na renda básica, na governança e na sustentabilidade; um avanço cada vez maior das inovações tecnológicas, já que a quarentena acelerou o uso das ferramentas digitais; e uma reorganização do comércio mundial, visto que, na pandemia, o mundo percebeu que algumas cadeias importantes estavam concentradas em alguns poucos países.