Apesar de a queda na taxa básica de juros (Selic) derrubar o rendimento da poupança para patamares iguais ou inferiores à inflação, a caderneta não para de acumular recordes. Para especialistas, ela vem sendo vista como um porto seguro nos tempos de incertezas com a pandemia de covid-19 e o alto risco de investimento na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em meio à recessão na qual o país está mergulhado, que poderá engolir o capital de quem não está acostumado com a gangorra do mercado de ações.
Após registrar saídas líquidas em janeiro e fevereiro, a poupança não para mais de registrar saldos positivos mensais desde março, quando o novo coronavírus chegou ao país. Em junho, bateu novo recorde, com os depósitos superando as retiradas em R$ 27,1 bilhões. É o maior volume para o mês desde 1995, início da série histórica, conforme dados do Banco Central divulgados nesta quinta-feira (06/08).
No acumulado do ano, o saldo entre depósitos e retiradas ficou positivo em R$ 111,6 bilhões. Esse montante é 220% superior a total as entradas líquidas de 2019, que somaram R$ 34,8 bilhões.
O volume do estoque total da poupança, incluindo o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e a poupança rural, somou R$ 972,7 bilhões até o mês passado. Conforme dados do Banco Central esse volume é outro recorde histórico desde o início da série, superando o anterior, de junho de 2020.
“Em época de crise, o importante é não perder o que poupou e, pelo menos, manter o valor investido. Logo, Investir na Bolsa, onde o risco é elevado, no meio de uma recessão, pode não ser um bom investimento, mesmo apostando em empresas grandes, porque o lucro delas também vão cair. Muitos investidores acabam voltando para a poupança para pelo menos não perderem para a inflação” , comentou o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac).
Ontem, o Comitê de Política Econômica (Copom), do Banco Central, reduziu a Selic de 2,25% para 2% ao ano, novo piso histórico. Com essa nova taxa, o rendimento dos depósitos na poupança nova passou de 1,58% para 1,40% ao ano, abaixo da expectativa do mercado para a inflação deste ano, de 1,6%.
Essa modalidade passou a valer desde 4 de maio de 2012, passando a ter remuneração de 70% da Selic mais Taxa Referencial (TR). Para depósitos na caderneta realizados até 3 de maio de 2012, a chamada poupança velha, a rentabilidade é de 6,17% ao ano.
Com isso, deixar o dinheiro parado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) acabou virando um bom investimento, pois remunera 3% ao ano mais TR, mais do que o dobro da poupança nova.