A crise do novo coronavírus atingiu as regiões brasileiras de forma "relativamente semelhante, com exceção do Centro-Oeste". A avaliação é do Banco Central (BC), que percebeu uma queda menor da atividade econômica no Centro-Oeste, por conta do peso do agronegócio na economia regional.
Dados divulgados nesta sexta-feira (14/8) pelo Boletim Regional do BC indicam que a atividade econômica brasileira caiu 11,4% no trimestre encerrado em maio. O baque foi calculado com base no Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC. Porém, variou de região para região, alcançando -8% no Nordeste e apenas -3,5% no Centro-Oeste.
"Regionalmente, houve impacto generalizado da pandemia em intensidade relativamente semelhante, com exceção do Centro-Oeste, que registrou efeitos menos pronunciados, repercutindo particularidades da estrutura produtiva", afirmou o BC, que também constatou retrações econômicas de 6,9% no Norte, 6,8% no Sul e 6,6% no Sudeste do Brasil.
O BC chegou a dizer que a retração observada pelo Centro-Oeste na pandemia "foi comparativamente pequena frente às das outras regiões e ao que se observa internacionalmente". E explicou que a região sentiu menos o baque econômico causado pela pandemia por conta da grande participação do agronegócio na sua economia.
Isto é, por conta da "estrutura econômica regional, que apresenta maior participação de atividades relacionadas com o setor primário e com o beneficiamento e distribuição desses produtos, aliada ao desempenho recorde da safra de soja".
Afinal, o agronegócio foi o setor da economia brasileira menos impactado pela pandemia do novo coronavírus, tanto porque não depende da concentração de pessoas, quanto porque tem ampliado suas exportações para a China.
O BC lembrou que a produção de grãos da região deve crescer 3,8% em 2020, atingindo o volume recorde de 115,8 milhões de toneladas, com destaque para o avanço de 11,3% da safra de soja. Além disso, as exportações bovinas da região cresceram 19,7% em valor até maio, "refletindo a valorização dos preços de proteína animal no mercado internacional ocorrida no final de 2019 e, posteriormente, a desvalorização cambial". Portanto, a região fechou o primeiro semestre deste ano com um aumento de 10,9% nas exportações, influenciado sobretudo pelas vendas de soja, carne bovina, algodão e frango.
Agronegócio
A força do agronegócio se refletiu até na indústria do Centro-Oeste, que registrou aumento na fabricação de alimentos. Por isso, a produção industrial da região recuou apenas 0,7% no trimestre encerrado em maio, contrastando com a queda de 18,2% registrada pela indústria brasileira como um todo.
O Banco Central reconhece, por sua vez, que a região não escapou da desaceleração das vendas do comércio e de serviços, sentida em todo o país devido às medidas de isolamento social e à queda de renda provocada pela pandemia. E essa retração atingiu, sobretudo, as localidades de "maior adensamento populacional e concentração de lojas" da região, como o Distrito Federal.
"Ainda que o setor primário tenha apresentado resultado positivo, foram significativas as adversidades impostas sobre as atividades de serviços mais intensivas em mão de obra ou 1ue acarretam aglomeração social, como bares, restaurantes, hotelaria, recreação e o comércio em geral, excetuando o setor de supermercados", comentou o BC.
Ainda assim, a expectativa da autoridade monetária é que o Centro-Oeste continue performando melhor que as demais regiões brasileiras ao longo de 2020. "A retomada da economia chinesa, a colheita da segunda safra de milho e a resiliência do setor industrial local permanecem sendo elementos de sustentação da atividade econômica na região nos próximos trimestres", explicou o Boletim Regional.
O BC projeta, portanto, uma queda de 1,7% da atividade econômica do Centro-Oeste em 2020, frente retrações de 7,1% do Nordeste, 6,1% do Sul, 5,9% do Nordeste e 5,4% do Sudeste. Já para o Brasil, o mercado projeta um baque de 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo diz que o tombo será de 4,7%.
"A economia brasileira, como as dos demais países, foi fortemente afetada pelo distanciamento social para o enfrentamento da pandemia da Covid-19", lembrou o BC. A autoridade monetária ainda destacou que, embora "indicadores recentes da atividade sugerem recuperação parcial da economia brasileira", esse "processo de recuperação tem ocorrido de forma desigual, com setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social ainda bastante deprimidos, apesar da recomposição de renda gerada pelos programas de governo".
E lembrou que ainda há muitas incertezas sobre o ritmo dessa recuperação nos próximos meses. "Mesmo com melhor conhecimento da dimensão dos impactos iniciais da pandemia, o grau de incerteza sobre o ritmo de recuperação da economia permanece acima do usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", comentou a autoridade monetária.
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