Resultado dos serviços mostra que recuperação será gradual, diz diretor do BC

Os serviços são mais afetados pelo isolamento social e cresceram 5% em junho, enquanto indústria e comércio avançaram mais de 8%

Marina Barbosa
postado em 13/08/2020 13:42
 (crédito: Geraldo Magela/Agencia Senado)
(crédito: Geraldo Magela/Agencia Senado)

O crescimento de 5% observado pelo setor de serviços em junho reforça o entendimento de que a retomada da crise causada pela pandemia do novo coronavírus vai ocorrer de forma gradual no Brasil. A avaliação é do diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk, em live realizada pela Associação e Sindicato de Bancos do Estado do Rio de Janeiro (Aberj) nesta quinta-feira (13/08).

"Essa crise aqui não precisa ser um U. Pode voltar mais rápido. Mas a gente acredita que também não vai voltar em V, porque vai ter setores que não conseguem retomar devido ao afastamento social. É isso estamos notando pelos dados. O dado de serviços mais uma vez mostra isso", afirmou Kanczuk, ao ser questionado sobre a expectativa do Banco Central para a recuperação econômica.

Kanczuk concluiu, então, que a retomada do novo coronavírus deve ocorrer por meio de uma letra mais parecida com um "check" ou com o símbolo do Nike. Ou seja, começa de forma acelerada após bater no fundo do poço, como já foi visto nos setores de comércio e indústria, que já deram sinais de reação em maio e cresceram mais 8% em junho. Porém, depois desse repique inicial perde um pouco de força, por conta da dificuldade de reação de setores como os serviços. Este setor é o mais importante da economia brasileira, mas também foi o mais atingido pelas medidas de isolamento social. Por isso, só deu sinais de reação em junho e em ritmo menor que o dos outros setores, conforme divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Algumas coisas que não dependem do isolamento social, como comprar coisas pela internet, voltam. A pessoa conseguiu renda pelos programas do governo e volta. Por isso, tem setores do varejo e da indústria voltando firmes. Mas os serviços, principalmente os serviços prestados às famílias - cabeleireiro, limpeza - você tenta reduzir pelo afastamento social. Esses não retomam a mesma forma, vão em função da pandemia, de quando vai se encerrar", explicou Kanczuk.

Os analistas concordam com o posicionamento do diretor do BC. Por isso, dizem que o resultado do setor de serviços reforça as projeções de uma queda próxima de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre — dado que, como já avisou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, vai ditar o ritmo do crescimento da economia brasileira em 2020.

PIB

Hoje, o mercado espera que o PIB do Brasil vai cerca de 5% neste ano, devido à pandemia do novo coronavírus. Esse cenário, porém, não considera o risco de uma segunda onda de pandemia, que é a grande ameaça dos países desenvolvidos atualmente, segundo Kanczuk.

"O cenário é que as coisas mais ou menos voltariam, sem uma nova onda", comentou o diretor do BC. Ele garantiu, por sua vez, que o Banco Central está pronto para atuar caso ocorra mais uma onda de contágio da covid-19 no Brasil. "Se ocorrer uma segunda onda, a gente vai com tudo de novo. A gente está pronto para atuar mais uma vez e fazer políticas de crédito mais uma vez. Mas é mais reativa do que proativa nossa atuação", avisou Kanczuk.

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