Assim como o grupo sueco Nordea, que anunciou a exclusão da empresa brasileira JBS de todos os fundos que administra por conta dos riscos de desmatamento na cadeia de suprimentos, outros desinvestimentos continuarão a ocorrer no país se os investidores não sentirem segurança nas ações de combate à devastação. A afirmação é do presidente da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira, que se reuniu, nesta terça-feira (28/7), junto a lideranças do movimento empresarial, com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para discutir uma agenda de desenvolvimento sustentável para o país.
“Os desinvestimentos vão continuar se os fundos não sentirem segurança aqui no Brasil. Inicialmente, foram os fundos soberanos e a BlackRock. Os asset managers (gestores de ativos, em inglês) do mundo têm uma postura de análise, porque o mercado está sendo pressionado nesse sentido”, disse.
Pereira lembrou que a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, votou contra 53 empresas na temporada de assembleias deste ano por falhas no progresso em lidar com as questões climáticas. “Essa pressão vai aumentar cada vez mais. Se não tivermos uma resposta bem adequada, certamente teremos mais evasão de recursos do país”, estimou, ressaltando que parte significativa do Produto Interno Brasileiro (PIB) é produzida pelas empresas signatárias do movimento.
Para reconquistar a confiança dos fundos, André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), explicou que as cadeias do agronegócio estão se organizando para fazer a rastreabilidade. “Isso dialoga com o desmatamento ilegal, porque a rastreabilidade permite fazer o controle e a identificação das cadeias de suprimento, para saber se o que foi produzido está cumprindo toda a legislação brasileira”, explicou.
Segundo ele, as cadeias da soja e da carne bovina rastreiam quem vende diretamente para elas. “Mas é preciso aprimorar para pegar os elos iniciais da cadeia, antes de chegar no trading. O que existe hoje é o esforço individual das empresas. Mas precisamos do compromisso de transparência disso, publicar as informações”, afirmou.
Nassar disse que há resistência no Brasil em relação a rastreabilidade. “Como se fosse só uma resposta ao comprador europeu, quando é para o consumidor global, para entender que alimento está comprando”, defendeu. Apesar de não serem perfeitos, os sistemas de rastreamento estão evoluindo e cobrindo parte dos riscos. “A agroindústria faz o rastreamento, mas o produtor rural também deveria participar”, sustentou.
A presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, explicou que não adianta “baixar o sarrafo no Brasil”. A gente pode aliar produção com conservação. É possível que a gente ganhe com isso. Uma das questões que foram colocadas ao vice-presidente Hamilton Mourão, é que se o governo ajudasse na questão da rastreabilidade isso poderia ser aprimorado”, acrescentou.
Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), alertou que a JBS tem um dos maiores sistemas de rastreamento de carne do mundo. Mesmo assim, a Nordea proibiu investimentos na empresa. “Coisas pontuais vão acontecer, por isso a transparência joga em favor. Eu ficaria feliz que os investidores parassem de investir em combustíveis fósseis e não é isso que acontece. Por isso, é preciso ter cuidado”, ressaltou.
De acordo com ele, até mesmo os melhores sistemas do mundo são passíveis de erro. “O setor só terá percentual de erro muito pequeno o dia em que todos os stakeholders (acionistas, partes interessadas ou agentes do setor, na expressão em inglês) tiverem esse tipo de rastreamento”, completou.