Crítica

Filme gringo com Alice Braga e Ben Affleck começa bem, mas derrapa

Hypnotic, de Robert Rodriguez, não consegue se sustentar pelo roteiro excessivamente mirabolante

Crítica // Hypnotic — Ameaça invisível ##

O ritmo aos moldes de Pequenos espiões e alguma violência com a cara de longas como Sin City e Machete, além da tensão enlouquecida com jeitão de A balada do pistoleiro, deixa Hypnotic — Ameaça invisível com breve assinatura de Robert Rodriguez, criador das obras citadas. Mas há um diferencial possivelmente responsável por alguma deformidade: Max Borenstein (de Godzilla) é corroteirista do filme estrelado por Alice Braga e Ben Affleck, respectivamente nos papéis da sensitiva (tida por charlatã) Diana Cruz e do instável detetive Danny Rourke. Tendo uma fotografia por pista, a dupla, sem demora, se vê obrigada à descontrolada fuga que desemboca no México (país muito estimado pelo texano Rodriguez).

Em fase de terapia ocupacional, depois do impacto do desaparecimento da filha, Danny fica tentado a regressar para o trabalho. Um dos pontos altos do filme é da remodelação da realidade, uma vez que o filme tanto avança na história, quanto regride, em aspecto labiríntico. Fatos ancorados em ilusão e a adoção da ótica quase aleatória no desenvolvimento do filme resultam numa perspectiva muito diferente do convencional. Mas, a inventividade acaba por extrapolar limites, enfraquecendo a atmosfera de originalidade. O instigante sugestionamento inicial, vai cada vez se perdendo, com muita explicação no filme excessivamente longo.

Debochando do "peão que pegou sua rainha (no caso, a filha de Rourke), num papel maquiavélico, o ator William Fichtner, por pouco, não rouba a cena, na pele do misterioso Lev Dellrayne. O grande problema do filme é que, em meio a traumas e bloqueios psíquicos do protagonista, a dissolução da realidade (amplamente ancorada no conceito de "construto", que convida à subjetividade) faz muitos estragos no roteiro. Junto com Nicks (JD Pardo), parceiro de Rourke, o excêntrico Rivers rende boa interpretação, no caso, do ator nigeriano Dayo Okeniyi. Quem muito se sobressai é a talentosa Alice Braga, mas numa fita menor.

Há uma manipulação desmedida, que, por muitas vezes, faz lembrar o set de cinema metalinguístico do longa Dogville. Numa das cenas, entre vagões, a distorção gráfica é bastante impressionante. Automutilação, bombas por estorarem e situações crescentes de fraudes completam o sensacionalismo. Muito sustentado pela montagem, o filme que trata de hipnose se perde ao investir na criação de "poderes" para personagens, numa trama detida em comportamentos de corporação e na habilidade de personagens que parecem zumbis.

 


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