Crítica

Fins bestiais estão na continuação da saga setentista "O exorcista"

Depois de esgravatar no clássico Halloween, o diretor David Gordon Green avança na franquia que mudou a vida da atriz Linda Blair

Depois do filme de 1973, duas meninas sofrem com efeitos da besta -  (crédito: Reprodução/Youtube)
Depois do filme de 1973, duas meninas sofrem com efeitos da besta - (crédito: Reprodução/Youtube)
postado em 13/10/2023 07:15 / atualizado em 13/10/2023 15:58

Crítica // O exorcista: o devoto ###

Até chegar a descrever parte da lenda do monstro Jabberwock, uma criação do autor Lewis Carroll (depois do clássico Alice no país das maravilhas) e que confere ainda mais tensão ao longa O exorcista: o devoto, o diretor David Gordon Green tem muito a revisitar, a partir dos ecos do filme de 1973 em que espíritos eram invocados e enxotados sem nenhuma cerimônia. Depois de recauchutar a franquia setentista Halloween, Gordon Green aposta num voo mais alto — com uma queda mais significativa.

O grande erro foi ousar a troca do fenomenal Max von Sydow (morto em 2020), que interpretou o religioso, pelo irrisório ator E.J. Bonilla. Em um transe de possessão, no qual são exaltados "corpo e sangue", estão as jovens amigas Angela (Lidya Jewett) e Katherine (Olivia O´Neil). Numa floresta, depois de 72 horas, ambas reaparecem machucadas, aguçando o poder do sugestionamento das mentes dos preocupados parentes delas como o fotógrafo Victor (Leslie Odon Jr.) e a nervosa cristã interpretada por Jennifer Nettles.

Com verdadeiros dípticos, as amigas ressurgem desencalacrando traumas de terceiros, urinando na cama, com as unha esgarçadas e as bocas desidratas. O incômodo inicial é o de, virtualmente, ambas estarem apáticas. Toda a maldição data do nascimento de Angela, quando recaíram suspeitas bênçãos destinadas a ela, ainda enquanto bebê. Tudo isso transcorreu, em Porto Príncipe, num Haiti cheio de passagens míticas. Entre personagens que arqueiam feito bonecas, quem mantém rijo o espírito dramático do filme é a nonagenária Ellen Burstyn, novamente à frente da personagem Chris MacNeil, a mãe da menina Regan, no filme original. Furar o olho e revirar a cabeça são algumas das expressões revisitadas na apoteose encerrada na longa cena de exorcismo coletivo.

Muito distante do medonho poder de desnortear que o filme dos anos 1970 propôs, a atual fita traz alguma carga de sordidez além de imagens assombrosas que balizam a dicotomia entre bem e do mal. Ao lado de forças positivas, encerradas na união dos vizinhos de Angela, que aderem a causa de salvá-la, despontam elementos ligados ao surreal da situação vivenciada pelas meninas: ritos macabros, perdas de familiares, abortos, casas reviradas e intervenções psiquiátricas têm espaço garantido no filme.

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