
A conexão entre arte, comida e sustentabilidade é o tema da exposição Trabalho invisível, em cartaz no Espaço Cultural Ivandro Cunha Lima, no Senado Federal. Brasiliense radicada em Berlim, Tainá Guedes trabalha com essa ideia há mais de uma década. Para a artista, não há como separar a alimentação do meio ambiente e da arte, por isso decidiu, com a ajuda da curadora Mônica Martinez, abordar os três em uma única exposição.
Para Tainá, falar de comida é também falar de gênero, de desigualdade e do futuro reservado à humanidade diante das mudanças climáticas. "É um diálogo que, na verdade, é muito importante porque, quando a gente fala de sustentabilidade, muitas vezes as pessoas não conectam com as diferenças de gênero e como isso influencia nossa comida", explica. "Uma pesquisa da ONU mostrou que 70% dos famintos do mundo são mulheres e meninas. A fome tem uma feição feminina. É um exemplo muito forte que explica a exposição", diz a artista, que pintou, em pratos de cerâmica, os gráficos das pesquisas.
Além de obras de Tainá, a exposição traz também trabalhos de Laura Garza, Colectiva Hilos, Frida Castañeda, Bela Gil, Stijn D'Hondt, Vanessa da Mata, Mirel Fraga e Claudia Rodriguez. De Bela Gil, Tainá escolheu um capítulo inteiro do livro Quem vai cozinhar essa comida? como obra para a exposição. "Acho uma obra de arte o texto dela, por isso coloquei num contexto de exposição de arte", garante.
Vanessa da Mata, que além de cantora e compositora é artista plástica, participa com a escultura de um coração. "Ela tem um trabalho muito importante como artista plástica que é inédito e a gente está expondo, pouquíssimas pessoas conhecem. E é uma forma de expressar uma coisa que ela não consegue na música. É um trabalho que me emociona muito porque é o coração remendado, costurado, machucado, todas as mulheres vão se identificar", avisa.
Claudia Rodrigues fez um diário materno que traça os caminhos da economia doméstica e Laura Garza apresenta um vestido com mangas conectadas para falar da importância da união e da coletividade feminina. Mirel Fraga e Frida Castañeda, artistas mexicanas de Oaxaca, falam sobre a preservação da cultura tradicional e o belga Stijn gravou os batimentos cardíacos de mães enquanto falavam de suas receitas favoritas. "Com esses batimentos, ele cria imagens baseadas em eletrocardiogramas", explica Tainá, cujo próprio trabalho são imagens extraídas de vídeos nos quais se ocupa da cozinha e do filho, um bebê recém-nascido.
A ideia é que a exposição circule por diversos países e, em cada um deles, acrescente novas obras de outros artistas. "A gente vai adicionando mais vozes. No Brasil, a questão do trabalho invisível é muito relacionada com a questão racial, e não somente de gênero e patriarcal. São muitos diálogos, são muitas camadas de discussões. Muitas das pessoas que fazem o trabalho invisível são descendentes de quilombolas e indígenas, então é um assunto muito político", avisa. Além da exposição, Tainá e algumas artistas vão fazer uma performance sobre o tema, no dia 8 de maio, às 12h, no Espaço Oscar Niemeyer.