
A arte mato grossense produzida nas últimas oito décadas é o destaque de Lírica, crítica e solar: artes visuais em Mato Grosso, em cartaz no Museu Nacional da República e com curadoria de Divino Sobral, Laudenir Gonçalves e Rosana Schmitt. Criada para celebrar os 50 anos de atuação do Sebrae em Mato Grosso, a exposição reúne obras de 50 artistas de oito municípios que, ao longo das décadas, ajudaram a construir a identidade visual da arte produzida no estado.
Dividida em sete núcleos imaginados a partir da própria história da formação do estado, a exposição contempla desde a presença indígena e até a produção contemporânea. "Começamos pela presença indígena, pensando tanto na questão da ancestralidade indígena quanto na representação dos indígenas pelos homens brancos. Aí, a gente tem um grupo de trabalhos que pensam a formação do povo mato grossense tomando como princípio a ancestralidade indigena e depois pela confluência de outras raças, como brancos e negros. É um núcleo sobre como se formam as famílias num lugar marcado pela migração", explica Sobral.
Outro núcleo propõe uma viagem com trabalhos que pensam sobre as heranças da cultura popular. "Mato Grosso conserva tradições da cultura popular muito fortemente, tanto as relacionadas ao folclore quanto a culinária e o religioso", diz o curador, que também reservou um espaço para obras ligadas ao universo popular religioso, com destaque para as festas de santos, pontos de ligação entre o sagrado e o profano. Cuiabá, capital do estado, ganha um núcleo especial para falar da cultura cuiabana, um modo de vida que, segundo o curador, passa pelo urbanismo, pela arquitetura, pelos hábitos alimentares e pelo transporte para chegar no processo de verticalização da cidade nascido, sobretudo, do fluxo de desenvolvimento gerado pelo agronegócio.
Para o maior núcleo da mostra ficaram reservados os artistas que se debruçaram sobre os aspectos naturais da região, incluindo tanto a pujança da natureza quanto a sua destruição. Entram nesse grupo uma reflexão sobre os modos tradicionais da agricultura familiar, representações de paisagens do cerrado, do pantanal e da Amazônia, mas também as queimadas, o desmatamento, a morte dos animais e a economia estruturada na agropecuária. "Aqui estão a transformação da paisagem pela geometria e o monocromatismo do agro, que transforma tudo num único verde e num espaço regido por uma geometria no cálculo da plantação", avisa Sobral.
Um último núcleo se dedica a pensar o surgimento das instituições artísticas em Mato Grosso, com uma homenagem a quatro mulheres que ajudaram a criar esse espaço. Para o curador, a exposição traz uma produção desconhecida do Brasil e, durante muito tempo, alvo de um olhar equivocado por parte da cena dos grandes centros. "É uma arte muito consistente, tem muita densidade e que, por estar ligada à identidade cultural de Mato Grosso, durante muito tempo foi vista como interiorana", lamenta. "Mas, hoje, a gente entende que é uma arte fundada na sua identidade e que resiste."
Lírica, crítica e solar: artes visuais em Mato Grosso
Curadoria: Divino Sobral, Laudenir Gonçalves e Rosana Schmitt. Visitação até 11 de maio, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República