Crônica

Metas digitais para 2025

Destaque para a redução do desmatamento na Amazônia e o Globo de Ouro para Fernanda Torres pela magnífica interpretação em Ainda estou aqui

Por Beto Seabra—O desemprego caiu, o PIB foi bom, a inflação deu uma subida, mas parece que está sob controle (apesar do dólar alto), e o Brasil voltou às manchetes internacionais de forma positiva. Destaque para a redução do desmatamento na Amazônia e o Globo de Ouro para Fernanda Torres pela magnífica interpretação em Ainda estou aqui.  São notícias que nos trazem esperanças de um país menos desigual e mais conectado com as coisas boas do mundo.

Mas isso quer dizer que está tudo bem? Não é bem assim. O turbilhão de informações que circula pelas redes digitais e invade nosso recanto analógico a cada minuto nos impede de respirarmos aliviados. Para cada boa notícia, chegam outras tantas do tipo estraga prazeres.

E ainda temos os memes, que não são necessariamente notícias, mas antes uma ideia, ou uma simples mensagem, em texto ou visual, feita para causar, emocionar, irritar ou fazer rir. No fim de 2024, devo ter recebido algumas centenas deles. Alguns ótimos, outros terríveis.

E a cada ano aparecem novos memes, e eles não são descartados, mas somam-se aos dos anos anteriores. Com isso, temos uma verdadeira quinquilharia digital que se avoluma de forma quase infinita. Sem contar as fotos dos eventos que acontecem ao nosso redor e que chegam para nós todos os dias, sem parar. Como lidar com isso?

Assim como a cada novo ano decidimos metas para a nossa vida, do tipo vou começar a correr ou iniciar uma dieta, acho que devemos também começar a ter metas digitais para o ano novo.

Devo continuar naquele grupo de zap ou inventar uma desculpa para sair? Vou aceitar ou rejeitar aqueles pedidos de amizade nas redes digitais? E as novas assinaturas digitais que fiz, devo renovar ou cancelar? Preciso aumentar o espaço de memória na nuvem e pagar por isso ou seria melhor aproveitar o início de ano e apagar aqueles vídeos e fotos que eu sei que não verei nunca mais?

Uma boa faxina digital a cada início de ano deveria fazer parte da vida de todas as pessoas. Se antes acumulávamos apenas jornais e revistas velhas, além dos boletos para pagar, hoje guardamos uma infinidade de coisas digitais que vão de um simples print de uma conversa até aquele vídeo gigante que você nunca conseguiu ver até o fim, lembra?

E isso não acontece apenas nos aparelhos celulares. Os computadores pessoais e os das empresas também estão abarrotados de arquivos inúteis. Dia desses o funcionário que cuida da informática do setor onde trabalho enviou uma mensagem assustadora informando que se não fizéssemos uma faxina em nossos ambientes digitais, ele mesmo faria, mandando para a lixeira o que fosse mais pesado, de forma indiscriminada. Entendo a indignação dele. As pessoas estão acumulando o que aparentemente é invisível, mas que ocupa espaço real.

Esse acúmulo de informações digitais começa a afetar a nossa memória física, digo corporal mesmo. Dia desses eu procurava um livro na estante do meu escritório, crente de que ele estaria no lugar onde o deixei, quando me lembrei de que aquele livro em específico eu havia lido no formato digital e que, portanto, ele estava guardado na memória de algum aparelho. O problema é que eu não descobri até hoje qual seria essa memória externa, que parece ter me abandonado ou desistido de mim.

 


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