Alma Duran é uma mulher que tenta se equilibrar entre o sonho e a realidade. Atriz encantada pelo teatro, porém falida, ela fantasia um dia poder montar um clássico de Anton Tchekhov enquanto dá aulas para conseguir tocar a vida. No parquinho de um condomínio em Botafogo, onde vive com a filha médica e o genro delegado, ela encontra um sujeito que se diz o próprio Tchekov. O delírio de Alma combinado com a sua lucidez de querer viver o sonho é a matéria-prima do diretor Pedro Brício para o texto Um jardim para Tchekhov, peça com Maria Padilha no papel principal em cartaz até fevereiro no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
A atriz e o dramaturgo haviam trabalhado juntos há cinco anos na montagem de Diários do abismo e agora retomaram a parceria em um texto que também tem o dedo de Maria Padilha. "O Pedro trabalhou o primeiro tratamento da peça, depois foi reescrevendo e acatando algumas sugestões, colocando alguns trechos de Tchekhov", conta a atriz, que mergulhou na obra O jardim das cerejeiras, do autor russo, para criar Alma Duran.
O conflito entre o mundo da fantasia da personagem que, desprovida de bens, ainda quer investir na produção teatral, e a família, que tenta manter o pé de Alma no chão, era a base da estrutura dramatúrgica proposta por Brício. "A estrutura que o Pedro tinha proposto era um confronto entre os dois mundos, um prático e outro cheio de subjetividade, de sonhos", conta Maria, que se inspirou muito em Liuba, protagonista de O jardim das cerejeiras, mas também em Blanche, de Um bonde chamado desejo.
Para a atriz, um dos desafios foi manter o equilíbrio de Alma de maneira que não parecesse uma mulher confinada ao delírio. "O Tchekhov observa o ser humano com o sublime e o patético que há nele. Em momentos super sérios, o personagem soa ridículo para a plateia e dá-se o humor. Esse equilíbrio vai sendo criado junto com a plateia, é uma coisa que a gente vai construindo junto. O texto, a direção e os personagens trabalham nesse sentido da humanização dos personagens, com o sublime e o patético de cada um", garante Maria Padilha, que enxerga elementos extremamente contemporâneos na peça. "Tem o tema da violência urbana, da escassez da nossa crise econômica mundial, da ecologia com o aquecimento global, a transformação que o ser humano pode viver."
Serviço
Um jardim para Tchekhov
Direção: Georgette Fadel. Texto: Pedro Brício. Com Maria Padilha, Leonardo Medeiros, Erom Cordeiro, Olivia Torres e Iohanna Carvalho. Sexta (10/1) e sábado (11/1), às 19h30, e domingo, às 17h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-SCES Trecho 02 Lote 22). Amanhã, bate-papo com o elenco após a sessão. Ingresso: R$ 30 e R$ 15 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos