Labirinto é uma espécie de retrato de caminhos e possibilidades diante da sensação de enclausuramento. A instalação do artista gaúcho André Severo na Caixa Cultural reúne 450 peças nascidas de um olhar que procura refletir sobre experiências de vida e projeções em momentos nos quais nem sempre se enxerga saídas.
Severo começou a construir o trabalho durante a pandemia, quando se viu isolado no ateliê, em Canela (RS). No total, a instalação concebida em 2020 reúne 366 imagens, uma para cada dia de um ano bissexto, algumas captadas pelo próprio artista, mas boa parte delas coletadas em livros, revistas e internet. Além dessas, há também imagens escolhidas para representar as 52 semanas do ano e uma gravação na qual um personagem identificado como El Mensajero conta os meses. "O Labirinto era um lugar interno", conta Severo. "Em algum momento na pandemia, comecei a me sentir realmente dentro desse lugar. Sempre chegava a uma imagem de um lugar fechado. Eu não estava pensando nisso como uma metáfora da pandemia, mas reagindo a uma espécie de labirinto interno que, obviamente, tinha a ver com a pandemia, mas não só isso. Era um labirinto interno onde tinha muita coisa em jogo do meu trabalho, do que eu ia fazer."
Praticamente todas as imagens trazem espaços fechados, mas nenhuma delas se refere a um único lugar. Severo fez um trabalho de sobreposição de várias imagens e o resultado são retratos que lembram lugares abandonados, parcialmente em ruínas. "O meu trabalho sempre gira em torno de uma ideia de imagem. De um lugar onde a linguagem não chega. Labirinto eu entendi que era uma instalação, agrupava uma série de coisas", diz.
O conjunto também é organizado e estruturado em seis filmes projetados em um espaço que envolve o espectador. Um cinema abandonado num loop infinito com a luz do projetor que ilumina o público, uma piscina coletiva abandonada e vazia na qual a água vai e vem, uma escola na qual se ouve sons diante de um quadro negro preenchido com títulos de livros, um hospital, uma igreja, são vários os espaços escolhidos por Severo para falar dos labirintos interiores. "A exposição é sobre essa falta de saída que a gente experiencia na vida uma, duas, três vezes. É um projeto que abre muito espaço para projetar os lugares, labirintos e coisas que poderiam ou não nos colocar numa situação dessa. Esses lugares são todos os lugares, porque são uma soma de lugares que criam um outro lugar", garante o artista.