Completar 19 anos implica chegar a um ponto de transição no qual é preciso tomar decisões importantes e é disso que trata o espetáculo Future Lovers, da companhia espanhola La Tristura, em cartaz nesta sexta-feira (15/11) e até domingo (17/11), no 25º Cena Contemporânea. A peça chega 10 anos depois de Matéria-prima, que também esteve em cartaz no Cena e na qual a companhia colocava em cena quatro crianças de 10 anos para refletir sobre a juventude. "O título representa um momento em que você sente, seja verdade ou não, que suas decisões terão um impacto profundo na sua vida, no seu futuro, no seu destino. São os primeiros enamoramentos relativamente adultos, as primeiras rupturas, o reconhecimento do seu corpo que não vai crescer mais", avisa Celso Giménez, diretor do espetáculo.
Future lovers nasceu quando os integrantes da companhia se deram conta que os jovens presentes no elenco de Matéria-Prima chegavam aos 19 anos. "Eles estavam se aproximando dessa fase e pensamos que seria bonito poder trabalhar com eles novamente", conta Celso. Future Lovers traz no elenco dois dos atores que estiveram em Matéria-Prima: Siro e Gonzalo, que nunca deixaram a companhia e passaram mais tempo atuando com a La Tristura do que sem atuar.
No espetáculo, em cartaz no Teatro Galpão Hugo Rodas do Espaço Cultural Renato Russo, a ideia é também levar o público a pensar sobre questões geracionais como o uso da tecnologia e a ansiedade ambiental de um planeta cujos recursos naturais estão sendo consumidos à exaustão.
Duas perguntas para Celso Giménez
Como falar dessa geração para a qual estamos deixando o planeta, um planeta semidestruído?
É muito difícil falar de uma geração se você coloca a questão de forma tão direta. No fim, são os próprios corpos e vozes que representam uma geração, se você os coloca no lugar certo. Eles são, existem, estão lá dançando, rindo e chorando diante de nós, no palco. Isso talvez seja o que conta, ao menos em parte, uma geração. Dar-lhes a possibilidade de estar presentes é o mais relevante em tudo isso. Na nossa forma de trabalhar, embora marquemos muito o texto e as ações, existe uma personalidade, uma liberdade interior que aparece, que se manifesta ao fazer Future Lovers. Sobre a destruição do planeta, é tão difícil sentir que não fazemos parte disso, é tão difícil gerar beleza a partir disso, é tão complicadamente doloroso que isso permeie tudo o que fazemos e propomos que, nas peças, normalmente tentamos gerar outra verdade no palco, uma outra forma de nos relacionarmos, mostrando uma certa ferida com a vida e a vontade de nos reconstruirmos vivendo em grupo ou em comunidade. Talvez isso seja pouco, ou talvez seja muito, não sabemos, mas colocamos nossa vida nessa tentativa.
Quais são as angústias dessa geração retratada no espetáculo?
Eu gosto muito de tentar detectar as angústias que falam mais do tempo que compartilhamos do que de uma geração em particular. No fim, isso é mais relevante, expressivo ou emocionante. E até mesmo, talvez, mais curador. Todos vivemos em um tempo em que o jovem e o novo são o melhor que existe. Todos ficamos tristes por fazer aniversário, desde os dez anos ouvimos crianças dizendo: ..."Oh, não, meu Deus, estou ficando velho, nunca mais serei jovem!". É doentio. A angústia de envelhecer, de não estar vivendo suficientemente bem, ou "jovialmente", de não estar aproveitando a vida e a juventude. Angústias turbocapitalistas que, com nuances, mantemos em outras gerações também. Em Future Lovers também está presente o desejo de ser compreendido e amado, um desejo que, como os demais, pode se transformar em angústia se você sente que não o possui. E, no fundo de tudo, a pergunta interminável e sempre compartilhada: "Estou vivendo como eu quero a minha única e preciosa vida?"