Artes visuais

Desenhos, simbolismos e identidades são temas de duas exposições

Duas exposições de artistas de Brasília trazem reflexões sobre o próprio fazer artístico e sobre a história do país

Durante mais de 15 anos, o artista Daniel Lopes fez parte do grupo de desenho de modelo vivo da Universidade de Brasília (UnB). Como participava dos encontros de maneira regular e constante, acabou produzindo uma enormidade de desenhos. Ele calcula que deva ter uns 7 mil, mas mostra apenas 350 na exposição Habitar a linha, em cartaz na Casa Niemeyer.  

Os desenhos foram produzidos entre 2009 e 2024, em uma prática fundamental para o desenvolvimento do artista. "O desenho de modelo vivo remonta à época das academias e o estudo da figura humana tem esse propósito de chegar a alguns ideais anatômicos, mas isso inicialmente. Ao longo dos séculos, os artistas vão subvertendo isso", explica. "É uma prática que serve muito para estudo e aprimoramento técnico, tanto na questão da anatomia quanto na da observação. Ao mesmo tempo, é uma forma de trabalho para os modelos, um espaço de troca. O grupo cria um espaço meio ambivalente, um encontro de artistas que  tentam aprimorar suas habilidades nas suas áreas." 

Divulgação -
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Fotos: Daniel Lopes -
Daniel Lopes -
Daniel Lopes -
Daniel Lopes -
Daniel Lopes -

O grupo de desenho de modelo vivo começou de maneira espontânea como uma forma, entre os alunos, de manter as práticas desenvolvidas em disciplinas da grade curricular do curso de artes visuais. Há três anos, tornou-se um projeto de extensão da UnB. "A ideia dos encontros é ser uma coisa dinâmica, não é uma aula e sim uma prática coletiva que muda organicamente de acordo com disponibilidade dos modelos, interesses dos artistas presentes", avisa Lopes.

Identidades

A galeria deCurators recebe, a partir de amanhã, a exposição Pedras que falam, de Suyan de Mattos, Renata Weber e Rafael Vaz. Jordana Barbosa ficou responsável pelo recorte curatorial que junta, na pequena galeria, instalação, performance e gravuras. As pedras portuguesas que servem a Suyan para falar de colonização, costuradas numa calçada que também é símbolo de apropriação territorial e esterilização cultural, os dentes de ouro da instalação de Renata, que convida o espectador a levar os objetos do cobiçado metal, a pintura que oferece um caminho criada por Rafael, todo o conjunto remete às histórias de posse e domínio que marcam tantos povos e corpos colonizados. "Essa exposição se baseia em que a pedra é uma metáfora para o corpo. A pedra é um dos grandes símbolos estéticos que Portugal trouxe para as colônias. Todos os países que Portugal colonizou têm calçada portuguesa. Para Portugal simboliza arte, cultura, estética, mas à medida que iam construindo também era uma forma de esterilizar o espaço. E para dizer esse território é meu, porque é um padrão de identidade. Então, a gente fala desse corpo que vai sendo destruído, da cobiça da exploração do ouro", avisa Jordana.

 


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