A relação do homem com o meio ambiente, os elos perdidos na conexão com a natureza e a compreensão cosmogônica da vida são algumas das questões que orientam a artista plástica Sônia Dias na produção das obras da exposição Da terra que somos, em cartaz no Museu Nacional da República.
Com esculturas e instalações, muitas delas em formatos orgânicos, a artista traz para o museu uma combinação de ideias que vão da espiritualidade e da filosofia até a observação da natureza. "Procuro incitar a atenção a nós mesmos e ao nosso redor para verificar nossa posição no planeta, o que a gente é, como a gente se conecta com nós mesmos e nosso entorno", avisa. "É um trabalho que incita a abertura da nossa consciência. Nos vermos muito mais longe que a matéria. As obras tratam de uma experiência de conexão com si mesmo".
Desde pequena, Sônia gosta de desenhar formas ovaladas como o ovo, elemento pelo qual sempre foi fascinada. Entender como a vida se desenvolve dentro de um invólucro tão frágil encanta a artista. "Então fui observando a natureza desde pequena e através dela fui me interessando por esses mistérios que a vida envolve", explica. "Por não ter ligação com nenhuma vertente religiosa, esse mergulho na percepção da natureza se tornou meu credo. E o lugar que me interessa na arte é sempre esse lugar inicial onde a criação acontece. Não o nascimento, mas o espaço que engendra a vida antes do nascimento. Esse é o espaço filosófico e poético no qual trabalho e com ele é que entendo que nós somos um pequeno braço, um galho de uma árvore lá em cima."
Boa parte das obras de Sônia costumavam ser feitas no meio da natureza. A exposição se resumia aos registros. No entanto, de uns tempos para cá, a artista começou a levar as esculturas e instalações para dentro das galerias. "Chamo essas expressões plásticas de microuniversos", diz. "Cada instalação é um microuniverso que conecta noções de nascimento, transformação, tempo e o centro de energia de produção antes que isso aconteça. Esse centro é onde todas as possibilidades coexistem de forma infinita".
A artista correlaciona o olhar do público como uma maneira de estar no que chama de intervalo simbólico entre a criação e o nascimento. Ela bebe na filosofia japonesa para explicar: "É o 'ma', um conceito da filosofia japonesa que está tanto na arquitetura, quanto na filosofia, na arte e na espiritualidade. É um conceito no qual você considera o intervalo, o espaço entre elementos, tempo e pensamento. Um estado de suspensão que não é vazio, é cheio, mas precisa se livrar de preconceitos para entrar em contato com aquilo que não está ali. Meus trabalhos são para que o público se coloque em frente e consiga habitar esse espaço."
Serviço
Da Terra que Somos
Exposição de Sonia Dias de Souza. Visitação até 17 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, Lote 2)