Cinema

O filme brasileiro 'O voo do anjo' estreia nos cinemas

Drama embasado na luta pela vida, O voo do anjo junta talentos de Othon Bastos e Emilio Orciollo Netto

Depois de vermos (e crermos) na presença iluminada de Othon Bastos no papel de Anacleto da franquia Nosso lar, fica impossível não levar em conta o teor do que ele diz e aconselha, seja na narração ou na pele de algum personagem experiente como o que ele encampa no novo filme de Alberto Araújo. Poeta, professor de longas décadas e, acima de tudo, um tipo bem humano Vitor (Bastos) é partidário da vida e despreza qualquer laivo de amargor no dia a dia. Sendo assim, o filme não é de grandes sobressaltos e transcorre em relativa calmaria. 

Curiosamente, é a admiração pelos pessimistas poemas de Augusto dos Anjos que darão estofo à paulatina amizade que o homem de 88 anos estabelecerá com o entregador de comidas Arthur (Emilio Orciollo Netto), outrora estudioso de sociologia. Sem a frequência na companhia do filho Renan (o convincente Gustavo Duque, metido em trama que enaltece a vaidade), em muito consumido pelo trabalho, Vitor acolhe Arthur, no centro da trama do filme.

Ainda que acople alguns momentos bem esquisitos — como o desvendar turístico da vinicultura propiciada por Paraúna —, O voo do anjo consegue agradar, mesmo pontuado por breves passagens em que a música sertaneja se apresenta. Boas atrizes, como a leve Cida Mendes no papel da espontânea empregada Dora, e ainda Dani Marques, em primeiro plano, com o drama de Karina na luta das etapas do luto, fortalecem o longa.

Três perguntas // Alberto Araújo, diretor

A mensagem que tangencia a autoajuda traz armadilhas para um filme? Como impediu o dramalhão?

Meu primeiro longa-metragem, Vazio coração, de 2013, também tinha como tema central o relacionamento humano, que é o meu assunto preferido, tanto para filmes que escrevo, quanto na hora de escolher os filmes que vou assistir. Confesso que quando sento para escrever um roteiro costumo deixar a emoção conduzir o eixo da história, portanto não me preocupei muito em policiar essa questão de escorregar para o que chamamos de "dramalhão". Agora, quando o diretor conta com atores tão experientes e capazes como Othon Bastos, Emílio Orciollo Netto e Dani Marques, o risco do resultado final ficar piegas é menor porque eles sabem a medida certa.

 

Como vê chegar aos cinemas junto com filme que propõe a liberdade para a eutanásia no caso de O quarto ao lado?

Realmente, é um assunto muito pesado, difícil de abordar, tanto a eutanásia quanto o suicídio, cujo tema está presente em O voo do anjo. Mas, eu costumo dizer que o fato de a gente ignorar problemas graves como esses não significa que irão deixar de existir. Portanto, acho importante que eles possam ser trazidos à tona, seja na literatura, teatro ou cinema, mesmo porque o papel da arte de uma forma geral é retratar, e se possível, discutir da forma mais respeitosa possível, os dramas da sociedade. Então, quando você vê que um filme sobre a eutanásia sendo reconhecido pela indústria do cinema, pela crítica e pela sociedade, nos encoraja a abordar temas mais profundos.

O que tem incrementado o cinema do Centro-Oeste,com filmes como o vencedor de Gramado outra vez? Qual painel faz da produção por Goiânia?

Antes de falar do momento atual do cinema goiano, quero lembrar que a sétima arte teve um hiato muito grande em nosso Estado. Para se ter uma ideia entre o meu filme Vazio coração, que foi lançando nos cinemas em 2013 e o último filme goiano a entrar em cartaz comercialmente se passaram 41 anos. Sim, o último filme originalmente goiano (não incluo os filmes de diretores de fora que foram rodados por aqui), foi o longa O Azarento, do saudoso diretor João Bennio, lançado em 1973. Depois dele, só o Vazio Coração voltou a entrar em cartaz. Claro que me refiro a produção de longas. Mas, de 2013 para cá, com o advento do cinema digital, tudo ficou mais fácil e a produção goiana tem crescido muito. Temos um longo caminho a percorrer, mas já existe muita gente boa fazendo filmes de alto nível por aqui.

 

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