A história de um encontro feliz entre dois amigos escritores, que permitiu ao mundo ter acesso a obras geniais como A metamorfose e O processo, é o tema central da peça Um beijo em Franz Kafka, em cartaz amanhã e domingo no Teatro Unip. Kafka morreu aos 40 anos, de tuberculose, e não teve em vida o reconhecimento que mais tarde viria a conquistar na cena literária. Desiludido, sem o apoio da família, ele decidiu entregar ao amigo Max Brod os originais de tudo que havia escrito com a recomendação de que fossem queimados assim que morresse. Em vez de destruir os manuscritos, Brod resolveu publicá-los. "É a história mais linda que o mundo já conheceu de amizade, que trouxe frutos para a humanidade e inspirou tantas pessoas. Ele se tornou esse grande gênio da literatura e inspirou todos os autores que vieram depois dele", diz o ator Maurício Machado, que vive Kafka na peça, com texto de Sérgio Roveri e direção de Eduardo Figueiredo.
O espetáculo nasceu da vontade de Figueiredo de levar ao palco alguns contos do escritor tcheco. "Sérgio pegou essa ideia, elaborou, e trouxe uma contraproposta que seria fazer esse momento em que o Kafka pede para queimar a obra dele. E ele escreve um testamento, porque em vida, os pais não incentivavam a escrita e a vocação para a literatura", conta Machado. No roteiro criado por Roveri, Kafka entrega um testamento para Max Brod pouco antes de partir para um retiro de saúde do qual jamais retornaria. O autor de A metamorfose, na época, havia publicado apenas algumas crônicas em jornais e não acreditava mais no próprio potencial literário. Ao deixar a Tchecoslováquia para fugir da perseguição nazista, Brod leva os originais e, mais tarde, já em Israel, onde se refugiou, consegue publicar as obras do amigo. "E Kafka se torna rapidamente uma grande referência e um acontecimento literário", explica Machado.
Encenada pela primeira vez em 2018, Um beijo em Franz Kafka tem dramaturgia que mistura elementos da imaginação do autor com personagens de diversas obras. "É um espetáculo bastante dinâmico, ágil. É muito envolvente, com música ao vivo o tempo inteiro, todo pontuado por piano e acordeon. É de uma beleza plástica extraordinária", conta Maurício Machado. No palco, o acordeon e o piano ficam por conta de Ricardo Pesce. A peça foi indicada ao Prêmio Shell e ganhou o Cenym de melhor ator. Também foi indicada ao Prêmio Bibi Ferreira e está em cartaz há seis anos.