Crítica

Liberdade feminina e o peso do amor se destacam em filme do Senegal

Drama conduzido por diretora estreante aborda o amor e dados de resistência machista em vila senegalesa

Crítica // Banel e Adama ★★★★

Aos 38 anos, a diretora de origens senegalesa e francesa Ramata-Toulaye Sy deu enorme passo de maturidade administrando uma fita do Senegal que chegou à seleção do Festival de Cannes 2023 e foi o representante daquele país na corrida por vaga no Oscar.

Com os atores instintivos, saídos de realidades de vilarejos, Kady Mane e Mamadou Diallo, a diretora cria um filme que ocasiona uma suspensão no tempo, num caminho lírico. Com imagens da região de Podor, ela capta o encantamento de mitos e acopla uma realidade que extrapola o registro do amor de um casal, tendo por ferramenta uma poderosa natureza que dá cartadas nos destinos.

O desprendimento junto a tradições seculares vai custar caro ao jovem casal Banel e Adama, que enfrenta, numa aldeia precária, o rigor da opressão. Há heranças malditas a serem debeladas entre as quais o machismo. Ambos pretendem literalmente cavar novas perspectivas, ao retomarem casas das redondezas soterradas por terra e pelo tempo. O sofrimento, a falta de compreensão e a escassez estarão pelo caminho. Numa certa medida política, a visão de Ramata-Toulaye dialoga com o cinema da veterana Euzhan Palcy, notável pela condução dos importantes Sugar Cane Alley (1983) e Assassinato sob custódia (1989).

 

 

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