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Mostra revela o tempo do cinema no exame do clima e da natureza

Com exibições de graça, filmes em mostra do Cine Brasília (EQS 106/107) trazem painel representativo das razões de crises climáticas

Emergência climática, condições dos povos originários, desastres provocados pelo homem, como a extensão da gentrificação e desdobramentos da mineração ilegal servem como bússola para a programação e conteúdo dos longas da 13ª Mostra Ecofalante, atualmente em cartaz, de graça, no Cine Brasília (EQS 106/107). Entre destaques deste fim de semana estão uma obra-prima de Werner Herzog, O fogo interior, e Céu aberto, melhor produção segundo votos no âmbito latino-americano da mostra Ecofalante.

O fogo interior: um réquiem para Katia e Maurice Krafft, hoje (4/10), às 20h45

Quase vinte anos depois de abocanhar inúmeros prêmios no circuito de críticos norte-americanos, com O homem urso, dedicado ao excêntrico amor de Timothy Treadwell por ursos (com os quais conviveu, diariamente), o alemão Werner Herzog apresenta um tratado sobre outra paixão inexplicável: a do casal Krafft, pesquisadores incapazes de medir esforços a favor da ciência. Mortos, pela atividade do Monte Unzen (Japão), há 34 anos, eles deram ao mundo, desde os fins dos anos de 1970, um compêndio de imagens suntuosas e únicas. Cada vez mais próximo à linguagem do cinema, o casal francês se aproxima do abstrato de Fantasia (o clássico da Disney, de 1940) e deixa efeitos de Hollywood no chinelo.

Céu aberto, domingo (6/10), às 20h30

Num ambiente silencioso e rudimentar peruano, o documentarista Felipe Esparza Pérez registra o desencontro de pai e filho separados por uma tragédia. Como num ritual de punição, o pai segue empregado na quase solitária extração de formações rochosas, desde à época da colonização, valiosas para a economia do Peru. Já o filho parece investir no futuro, atraído por drones, computadores e afins. É no exame de uma igreja e de preciosidades seculares que o mundo de um parece tangenciar o do outro.

Duas perguntas // Chico Guariba, diretor da mostra

Qual o tema mais inesperado e que filme é o mais impactante da mostra?

Um dos temas mais diferentes e importantes talvez esteja no filme do Werner Herzog (O fogo interior: um réquiem para Katia e Maurice Krafft). Ele mostra a força do magma, de toda a questão dos vulcões, da movimentação das placas tectônicas. Um movimento da natureza e do planeta Terra que é absolutamente incontrolável e que o ser humano tenta entender. É um filme excepcional que mostra essa força da natureza e que tem consequências que a gente nunca vai poder controlar. É um filme de beleza estrondosa, e com questões muito profundas o filme.

A crise climática está aprofundada em produções específicas?

A questão da crise climática está cada vez mais pauta para todos no mundo. No Brasil, cada vez enchentes são vistas, há a seca profunda e os incêndios, dado o brutal aumento na temperatura brutal. Fatores sentidos, por exemplo, em toda a região Norte. As temáticas passam, evidentemente, pela emergência climática com o filme Solo comum. Noutro longa (Arrasando Liberty Square, de Katja Esson). Nisso há a questão do racismo ambiental. Mudanças climáticas não atingem de forma igual toda população. Há uma população muito mais vulnerável, a mais atingida. Na mostra temos foco ainda na questão trabalhista e de concentração de renda.

 

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Marcos Finotti/Divulgação - Diretor Chico Guariba.
Lorena Tulini - Cena do filme Céu Aberto, de Felipe Esparza Pérez