Crítica // Deixe-me ★★★★
Dentro de um dos raros casos de indicação ao Oscar de um cineasta polonês, feito atrelado ao longa da Guerra fria (2018), a atriz e cantora Jeanne Balibar marcou muita presença naquele drama em preto e branco que a projetou junto ao público. Agora, no filme de estreia do suíço Maxime Rappaz, depois de brilhar em Os miseráveis (2019), Balibar segue chamando a atenção para si, num filme que exige o manejo de discretas emoções, com o corpo desnudo e muita exposição emocional. Sagaz, ela opta por não intensificar o registro num filme em que a protagonista está imersa em rotina massacrante.
Como libertação ou respiro, Claudine (Balibar) investe em encontros fortuitos, sem prolongar, numa jornada semanal em que as estratégias são as mesmas: num hotel, que conhece como a palma da mão, nos Alpes Suíços, ela estabelece recomeços constantes com parceiros ocasionais, seja por proteção emocional ou desvio nos riscos de reais envolvimentos. No dia a dia, Claudine vive com o filho Baptiste (Pierre-Antoine Dubey, excelente, no retrato de um cadeirante), apaixonado pelas figuras do cantor Johnny Logan e da princesa Diana. A cada encontro sexual, a mãe realimenta componentes para a leitura de imaginárias cartas para o pai ausente.
A partir de músicas tocantes de Antoine Bodson e de uma plasticidade que capta cavas e rugas entalhadas tanto em Balibar quanto no vacilante e apaixonado Michael (o ator alemão Thomas Sarbacher, talentoso e com um quê de Robert De Niro), o diretor ressalta uma fluida trama descrente de julgamentos e da investida no fácil apelo do dramalhão.
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